Paulo Ghiraldelli Jr.: Que mãe que nada!
SER mãe é padecer no Paraíso. Não acho que exista uma frase mais correta que essa quando se trata de dito popular. Ser mãe não é padecer em qualquer lugar, mas no Paraíso. Padecer em qualquer lugar é a condição de todos que, estando na Terra, podem pegar no país uma inflação, podem estar sujeitos a uma gripe ou ao atropelamento ou, ainda, a uma traição de amigos – há infinitas desgraças na Terra. Mas, e no Paraíso? O Paraíso é o local em que tudo vai bem. O sofrimento ali é o sofrimento mais duro, pois aparece não como comum, e sim como maldição. Onde o sofrimento não cabe de modo apropriado, alguém ali, isoladamente, sofre calado, e então o padecimento no Paraíso é duro mesmo, pois é o sofrimento absurdo.
Nossa sociedade elegeu como rei a criança, o filho, e tortura as mulheres com a idéia de que elas devem ser mães. As mulheres engolem essa idéia de tal maneira que acreditam mesmo que há felicidade em ser mãe. Algumas ficam com tanto ódio de terem sido mães que, quando lêem artigos como este meu aqui, não se revoltam contra a própria estupidez de terem jogado a vida pessoal fora sendo mães, mas se revoltam contra mim, pois não gostariam de escutar a verdade.
Procriar deveria ser algo normal e comum. Na maioria das vezes é isso. E termos feito da criança um reizinho que tudo pode não mudou a regra de usarmos das crianças como quem usa um objeto – uns usam as crianças para preencher casamentos vazios, outros as utilizam para escravizar ou simplesmente jogar no lixo quando nascem ou, ainda, há os que procriam apenas para pegar todo tipo de bolsa oferecida por um governo cuja política social é o mero populismo (um governo qualquer, não sei qual). Todavia, por maiores que sejam as desgraças que fazemos as crianças sofrerem, a idéia da criança-rei não é alterada. Ele é dominante. Ela veio com o romantismo de Rousseau e se adaptou bem à sociedade moderna, tão desejosa de ver a população aumentada e bem cuidada, para ter mais mão de obra com preço reduzido à disposição. Essas duas leis, a das idéias e a da economia, trouxeram para as mulheres – e agora para os homens – a ideologia da maternidade e da paternidade.
A ideologia da maternidade e da paternidade é uma ideologia no sentido mais correto e forte da palavra. Uma doutrina que diz coisas corretas, mas que, ao buscar ser universal e absoluta, se faz – mas não se mostra, é claro – incorreta até nos detalhes corretos. Essa ideologia diz que a mulher deve ser mãe. E diz que o homem deve ser pai. Tudo que é feito para os bípedes sem penas brilharem lhe são tirados, e lhes resta casamentos – que podem ser desfeitos – e filhos, que não podem ser descartados. Filhos, filhos e filhos – eis o anúncio que soa como o das “pamonhas, pamonhas e pamonhas”. Pois, porque dizer “pamonhas” repetidamente? Bastaria dizer: Vendemos pamonhas. Pronto. Mas essa coisa de repetir é realmente dose para leão. E o caso dos filhos é isso: todo mundo repete que uma vida só é preenchida com filhos. Ora, em resposta eu digo: um filho só é uma burrice. Dois, um crime. Antes ser burro apenas. Ou burra. Não estou xingando você, leitor: eu tenho dois filhos!
Ah, tem mulher inteligente cujo “ter filho” é o gancho para ser sustentada por um famoso cantor de Rock? Cuidado, o golpe da barriga mais deu azar que sorte. Não é todo mundo que acertou com ele. Cuidado mesmo!
Aliás, acho que veio dos americanos – que possuem obsessão com a família – essa conversa fiada de que uma vida completa nós só a realizamos quando plantamos uma árvore, escrevemos um livro e temos um filho. Plantei um monte de árvores e a prefeitura cortou. Algumas até meus entes queridos cortaram! Escrevi um monte de livros – não fiquei satisfeito, estou fazendo mais. Só o último ficou bom, mas já estou achando que o próximo será melhor. Tive filhos. Em alguns momentos, fui não só pai deles, mas mãe. Sabem o que eu digo, não? Não há nada pior para a mãe do que ser mãe; imagine então, para o pai, ser mãe! Um dia ainda descubro o inventor da frase dos três deveres e lhe dou uma boa surra. Caso ele tenha filhos, estes é que vão apanhar. Netos também. Baterei nessa família maldita produtora de frases criminosas.
Ser mãe é padecer no paraíso. É isso, de fato. Filhos ficam vagabundos e drogados. Alguns vão para a cadeia, e no dia das mães eles saem da cadeia e, em vez de verem mamãe, aproveitam para mais furtos! Não importa a classe social, esse tipo de desgosto com filhos nós encontramos em todos os setores sociais. E até na sorte há a desgraça com filhos: as mulheres anarquistas do início do século diziam: “greve de úteros contra a guerra”. Afinal, de que adiantava ter filhos e amá-los se eles teriam de se alistar?
Steven Spielberg é hoje aquele que mais incorporou a idéia de responsabilizar os pais (é certo que é mais a figura paterna, não a materna) por tudo, e de espraiar sentimento de culpa pelo mundo. Todos os seus filmes possuem a idéia básica de jogar sentimento de culpa sobre pais, de alguma forma. Disney elegeu a infância em associação com a natureza para o reinado que já estava em germe em Rousseau. Spielberg completou o maldito quadro fazendo o rei-criança ser o fraco de Nietzsche, cujo trabalho é o de corroer todo tido de sentimento altivo que possamos ter. Diante desse reizinho, só temos uma regra: abaixar a cabeça e nos sentirmos devedores.
O dia das mães é exatamente isso: todas as mulheres do mundo são massacradas. E se nós, homens, não tomarmos cuidado, vamos de embrulho nisso. As lojas exigem das mulheres que elas sejam mães, mas ao mesmo tempo cozinheiras que não perderam o charme. E, não raro, que saiam no dia seguinte para trabalhar fora, sustentar a casa, e depois voltar para ser mãe. Bom, à noite, se quiserem manter o casamento, que deixem logo o papel de mãe de lado e façam a puta na cama que é o que todo marido sadio deseja (o que não deseja isso, aviso a você, mulher e mãe: ele é gay). Caso não seja assim, ele vai procurar outra. Na rua, ele transforma a puta em mãe. Alguns desgraçados que procuram putas acabam fazendo delas mães: em vez de curtirem como curtiram a masturbação diante da revista Playboy, fazem das “mulheres de vida fácil” o que fariam com suas mulheres de vida difícil: as tornam mães – literal e metaforicamente. Metaforicamente, no caso, é até pior.
Ser mulher não é algo difícil. O feminismo está errado nisso. Ser mulher é difícil por causa de que as mulheres teimam em não usar pílulas, camisinhas e, agora, a fantástica e abençoada “pílula do dia seguinte”. Tudo isso evita o drama maior do aborto. Evita o drama maior de ter de levar criança na escola. Evita a desgraça terrível de ser xingada pelo filho quando este se torna adolescente – e quer mais drama amargo que este?
Caso alguém comemore com alegria esse dia das mães, é por que é burro. Comemore esse dia com sua mãe. Tente não ser a desgraça que é na vida dela. E só. Já fez muito. E com sua mulher? Ah, evite fazê-la mãe, sua besta.
Paulo Ghiraldelli Jr. “o filósofo da cidade de São Paulo”.
Postado por Paulo Ghiraldelli às Sábado, Maio 10, 2008
SER mãe é padecer no Paraíso. Não acho que exista uma frase mais correta que essa quando se trata de dito popular. Ser mãe não é padecer em qualquer lugar, mas no Paraíso. Padecer em qualquer lugar é a condição de todos que, estando na Terra, podem pegar no país uma inflação, podem estar sujeitos a uma gripe ou ao atropelamento ou, ainda, a uma traição de amigos – há infinitas desgraças na Terra. Mas, e no Paraíso? O Paraíso é o local em que tudo vai bem. O sofrimento ali é o sofrimento mais duro, pois aparece não como comum, e sim como maldição. Onde o sofrimento não cabe de modo apropriado, alguém ali, isoladamente, sofre calado, e então o padecimento no Paraíso é duro mesmo, pois é o sofrimento absurdo.
Nossa sociedade elegeu como rei a criança, o filho, e tortura as mulheres com a idéia de que elas devem ser mães. As mulheres engolem essa idéia de tal maneira que acreditam mesmo que há felicidade em ser mãe. Algumas ficam com tanto ódio de terem sido mães que, quando lêem artigos como este meu aqui, não se revoltam contra a própria estupidez de terem jogado a vida pessoal fora sendo mães, mas se revoltam contra mim, pois não gostariam de escutar a verdade.
Procriar deveria ser algo normal e comum. Na maioria das vezes é isso. E termos feito da criança um reizinho que tudo pode não mudou a regra de usarmos das crianças como quem usa um objeto – uns usam as crianças para preencher casamentos vazios, outros as utilizam para escravizar ou simplesmente jogar no lixo quando nascem ou, ainda, há os que procriam apenas para pegar todo tipo de bolsa oferecida por um governo cuja política social é o mero populismo (um governo qualquer, não sei qual). Todavia, por maiores que sejam as desgraças que fazemos as crianças sofrerem, a idéia da criança-rei não é alterada. Ele é dominante. Ela veio com o romantismo de Rousseau e se adaptou bem à sociedade moderna, tão desejosa de ver a população aumentada e bem cuidada, para ter mais mão de obra com preço reduzido à disposição. Essas duas leis, a das idéias e a da economia, trouxeram para as mulheres – e agora para os homens – a ideologia da maternidade e da paternidade.
A ideologia da maternidade e da paternidade é uma ideologia no sentido mais correto e forte da palavra. Uma doutrina que diz coisas corretas, mas que, ao buscar ser universal e absoluta, se faz – mas não se mostra, é claro – incorreta até nos detalhes corretos. Essa ideologia diz que a mulher deve ser mãe. E diz que o homem deve ser pai. Tudo que é feito para os bípedes sem penas brilharem lhe são tirados, e lhes resta casamentos – que podem ser desfeitos – e filhos, que não podem ser descartados. Filhos, filhos e filhos – eis o anúncio que soa como o das “pamonhas, pamonhas e pamonhas”. Pois, porque dizer “pamonhas” repetidamente? Bastaria dizer: Vendemos pamonhas. Pronto. Mas essa coisa de repetir é realmente dose para leão. E o caso dos filhos é isso: todo mundo repete que uma vida só é preenchida com filhos. Ora, em resposta eu digo: um filho só é uma burrice. Dois, um crime. Antes ser burro apenas. Ou burra. Não estou xingando você, leitor: eu tenho dois filhos!
Ah, tem mulher inteligente cujo “ter filho” é o gancho para ser sustentada por um famoso cantor de Rock? Cuidado, o golpe da barriga mais deu azar que sorte. Não é todo mundo que acertou com ele. Cuidado mesmo!
Aliás, acho que veio dos americanos – que possuem obsessão com a família – essa conversa fiada de que uma vida completa nós só a realizamos quando plantamos uma árvore, escrevemos um livro e temos um filho. Plantei um monte de árvores e a prefeitura cortou. Algumas até meus entes queridos cortaram! Escrevi um monte de livros – não fiquei satisfeito, estou fazendo mais. Só o último ficou bom, mas já estou achando que o próximo será melhor. Tive filhos. Em alguns momentos, fui não só pai deles, mas mãe. Sabem o que eu digo, não? Não há nada pior para a mãe do que ser mãe; imagine então, para o pai, ser mãe! Um dia ainda descubro o inventor da frase dos três deveres e lhe dou uma boa surra. Caso ele tenha filhos, estes é que vão apanhar. Netos também. Baterei nessa família maldita produtora de frases criminosas.
Ser mãe é padecer no paraíso. É isso, de fato. Filhos ficam vagabundos e drogados. Alguns vão para a cadeia, e no dia das mães eles saem da cadeia e, em vez de verem mamãe, aproveitam para mais furtos! Não importa a classe social, esse tipo de desgosto com filhos nós encontramos em todos os setores sociais. E até na sorte há a desgraça com filhos: as mulheres anarquistas do início do século diziam: “greve de úteros contra a guerra”. Afinal, de que adiantava ter filhos e amá-los se eles teriam de se alistar?
Steven Spielberg é hoje aquele que mais incorporou a idéia de responsabilizar os pais (é certo que é mais a figura paterna, não a materna) por tudo, e de espraiar sentimento de culpa pelo mundo. Todos os seus filmes possuem a idéia básica de jogar sentimento de culpa sobre pais, de alguma forma. Disney elegeu a infância em associação com a natureza para o reinado que já estava em germe em Rousseau. Spielberg completou o maldito quadro fazendo o rei-criança ser o fraco de Nietzsche, cujo trabalho é o de corroer todo tido de sentimento altivo que possamos ter. Diante desse reizinho, só temos uma regra: abaixar a cabeça e nos sentirmos devedores.
O dia das mães é exatamente isso: todas as mulheres do mundo são massacradas. E se nós, homens, não tomarmos cuidado, vamos de embrulho nisso. As lojas exigem das mulheres que elas sejam mães, mas ao mesmo tempo cozinheiras que não perderam o charme. E, não raro, que saiam no dia seguinte para trabalhar fora, sustentar a casa, e depois voltar para ser mãe. Bom, à noite, se quiserem manter o casamento, que deixem logo o papel de mãe de lado e façam a puta na cama que é o que todo marido sadio deseja (o que não deseja isso, aviso a você, mulher e mãe: ele é gay). Caso não seja assim, ele vai procurar outra. Na rua, ele transforma a puta em mãe. Alguns desgraçados que procuram putas acabam fazendo delas mães: em vez de curtirem como curtiram a masturbação diante da revista Playboy, fazem das “mulheres de vida fácil” o que fariam com suas mulheres de vida difícil: as tornam mães – literal e metaforicamente. Metaforicamente, no caso, é até pior.
Ser mulher não é algo difícil. O feminismo está errado nisso. Ser mulher é difícil por causa de que as mulheres teimam em não usar pílulas, camisinhas e, agora, a fantástica e abençoada “pílula do dia seguinte”. Tudo isso evita o drama maior do aborto. Evita o drama maior de ter de levar criança na escola. Evita a desgraça terrível de ser xingada pelo filho quando este se torna adolescente – e quer mais drama amargo que este?
Caso alguém comemore com alegria esse dia das mães, é por que é burro. Comemore esse dia com sua mãe. Tente não ser a desgraça que é na vida dela. E só. Já fez muito. E com sua mulher? Ah, evite fazê-la mãe, sua besta.
Paulo Ghiraldelli Jr. “o filósofo da cidade de São Paulo”.
Postado por Paulo Ghiraldelli às Sábado, Maio 10, 2008