`Juro que ao exercer a Medicina mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha boca calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Jamais me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, gozem para sempre minha vida e minha arte de boa reputação entre os homens. Se o infringir, ou dele me afastar, suceda-me o contrário``.
Esta é uma das versões do célebre Juramento de Hipócrates, formulado há cerca de vinte e quatro séculos, mas ainda hoje declamado com emoção por milhares de médicos, por ocasião das solenidades de colação de grau. Traz em seu bojo alguns dos princípios fundamentais da ética médica, que mantêm sua validade ainda hoje.
A atitude de zelo, dedicação e cuidado com o paciente, temperada com o sentimento da compaixão, persiste como uma das características marcantes da Medicina, que está definida no Código de Ética Médica como uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade, devendo ser exercida sem discriminação de qualquer natureza.
O esforço permanente para fazer o melhor por cada doente obriga o médico a estar continuamente estudando, pesquisando, para que possa disponibilizar para seus pacientes todos os avanços que a ciência oferece. O respeito pelo paciente leva ao reconhecimento de que as condutas médicas, quer diagnósticas quer terapêuticas, necessitam ser autorizadas pelo enfermo para que possam ser adotadas. Para isto, o paciente tem o direito de ser devidamente esclarecido sobre sua enfermidade. Estas são algumas das linhas mestras de orientação do comportamento dos médicos, os quais devem estar preparados para enfrentar também os óbices que surgem no seu trabalho.
No livro ``Enfermaria nº 6``, o escritor russo Anton Tchékhov, que era médico, põe em ação um personagem, o Dr. Andriéi Efímich, médico de uma pequena cidade do interior, o qual vai progressivamente sendo tomado pelo desalento, ao se deparar com enormes dificuldades no exercício de sua profissão. Ante o número crescente de pacientes a atender e a constatação de que poucos resultados eram obtidos e a mortalidade não decrescia, o esculápio acabou por concluir que seu trabalho era marcado pela monotonia e uma evidente inutilidade.
O resultado, desastroso, foi que o Dr. Andriéi Efímich passou a negligenciar seus deveres profissionais, raciocinando que não havia sentido em lutar para impedir um paciente de morrer, uma vez que a morte é o fim natural e legítimo de cada um. É justamente este sentimento de derrota que não podemos permitir que nos acometa. É fato que a prática médica é plena de obstáculos. Em nosso país, em que a maior parte da população tem que recorrer ao serviço público para ver atendidas suas necessidades de saúde, constatamos diariamente a verdadeira via crucis dos pacientes em busca de um exame importante para o diagnóstico da enfermidade de que estão acometidos, ou para a realização de uma cirurgia cujo adiamento pode modificar fatalmente a evolução da doença.
Eu mesmo tive recentemente a oportunidade de dizer em entrevista que não era justo que uma paciente, como a que eu atendera há poucos dias, estivesse numa fila com mais de três mil doentes à espera de uma consulta com um otorrinolaringologista. Na semana seguinte, outra paciente, que vira meu pronunciamento pela TV, mostrou-me o formulário que apontava estar ela no número 10.780 na fila para o reumatologista...
Estas são situações que aumentam o sofrimento dos doentes, angustiam os médicos e trazem o sentimento de que estamos distantes da realização do lema constitucional de que ``saúde é um direito de todos``. E que ainda precisamos dar passos largos rumo à conquista dos legítimos direitos da cidadania.
Entendemos, contudo, que a aliança dos médicos com os pacientes reforça as possibilidades de alívio dos sintomas e cura das enfermidades, porém também poderá contribuir decisivamente para que tenhamos um sistema de saúde bem organizado, resolutivo, capaz de proporcionar atendimento digno, equânime e solidário a todos os cidadãos. Os médicos, firmes em seu juramento ético, estão dispostos a continuar honrando os ensinamentos hipocráticos.
IVAN DE ARAÚJO MOURA FÉ é presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremec)
Esta é uma das versões do célebre Juramento de Hipócrates, formulado há cerca de vinte e quatro séculos, mas ainda hoje declamado com emoção por milhares de médicos, por ocasião das solenidades de colação de grau. Traz em seu bojo alguns dos princípios fundamentais da ética médica, que mantêm sua validade ainda hoje.
A atitude de zelo, dedicação e cuidado com o paciente, temperada com o sentimento da compaixão, persiste como uma das características marcantes da Medicina, que está definida no Código de Ética Médica como uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade, devendo ser exercida sem discriminação de qualquer natureza.
O esforço permanente para fazer o melhor por cada doente obriga o médico a estar continuamente estudando, pesquisando, para que possa disponibilizar para seus pacientes todos os avanços que a ciência oferece. O respeito pelo paciente leva ao reconhecimento de que as condutas médicas, quer diagnósticas quer terapêuticas, necessitam ser autorizadas pelo enfermo para que possam ser adotadas. Para isto, o paciente tem o direito de ser devidamente esclarecido sobre sua enfermidade. Estas são algumas das linhas mestras de orientação do comportamento dos médicos, os quais devem estar preparados para enfrentar também os óbices que surgem no seu trabalho.
No livro ``Enfermaria nº 6``, o escritor russo Anton Tchékhov, que era médico, põe em ação um personagem, o Dr. Andriéi Efímich, médico de uma pequena cidade do interior, o qual vai progressivamente sendo tomado pelo desalento, ao se deparar com enormes dificuldades no exercício de sua profissão. Ante o número crescente de pacientes a atender e a constatação de que poucos resultados eram obtidos e a mortalidade não decrescia, o esculápio acabou por concluir que seu trabalho era marcado pela monotonia e uma evidente inutilidade.
O resultado, desastroso, foi que o Dr. Andriéi Efímich passou a negligenciar seus deveres profissionais, raciocinando que não havia sentido em lutar para impedir um paciente de morrer, uma vez que a morte é o fim natural e legítimo de cada um. É justamente este sentimento de derrota que não podemos permitir que nos acometa. É fato que a prática médica é plena de obstáculos. Em nosso país, em que a maior parte da população tem que recorrer ao serviço público para ver atendidas suas necessidades de saúde, constatamos diariamente a verdadeira via crucis dos pacientes em busca de um exame importante para o diagnóstico da enfermidade de que estão acometidos, ou para a realização de uma cirurgia cujo adiamento pode modificar fatalmente a evolução da doença.
Eu mesmo tive recentemente a oportunidade de dizer em entrevista que não era justo que uma paciente, como a que eu atendera há poucos dias, estivesse numa fila com mais de três mil doentes à espera de uma consulta com um otorrinolaringologista. Na semana seguinte, outra paciente, que vira meu pronunciamento pela TV, mostrou-me o formulário que apontava estar ela no número 10.780 na fila para o reumatologista...
Estas são situações que aumentam o sofrimento dos doentes, angustiam os médicos e trazem o sentimento de que estamos distantes da realização do lema constitucional de que ``saúde é um direito de todos``. E que ainda precisamos dar passos largos rumo à conquista dos legítimos direitos da cidadania.
Entendemos, contudo, que a aliança dos médicos com os pacientes reforça as possibilidades de alívio dos sintomas e cura das enfermidades, porém também poderá contribuir decisivamente para que tenhamos um sistema de saúde bem organizado, resolutivo, capaz de proporcionar atendimento digno, equânime e solidário a todos os cidadãos. Os médicos, firmes em seu juramento ético, estão dispostos a continuar honrando os ensinamentos hipocráticos.
IVAN DE ARAÚJO MOURA FÉ é presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremec)