HGE É CASO DE POLÍCIA
O Sindicato dos Médicos vai insistir. Mais uma vez, na semana que começa, encaminhará ao Ministério Público Estadual (MP/AL) um documento com denúncias sobre a falta de condições de atendimento e de trabalho no Hospital Geral do Estado (HGE) e também na Unidade de Emergência (UE) do Agreste. Alguém precisa fazer alguma coisa quanto à falta de responsabilidade do governo, que tem resultado em muitas mortes que poderiam ser evitadas.
A diretoria do Sinmed vai pedir ao MP que faça uma vistoria no HGE e UE do Agreste, para constatar a falta de médicos (horários descobertos), a longa fila de pacientes graves à espera no corredor do centro cirúrgico (“corredor da morte”), a improvisação, quando se coloca médicos sem habilitação específica para monitorar os internados na UTI e até a “UTI informal” em que foi transformada a tal área vermelha, que agora tem um anexo, que é o corredor que leva ao centro cirúrgico, constantemente tomado por macas de pacientes que parecem fazer fila para morrer.
O presidente do Sinmed, Wellington Galvão, foi abordado semana passada por uma médica que labuta no HGE. Ela reclamou da sobrecarga desumana de trabalho, da grande quantidade de pacientes que não tem com quem dividir, da falta de estrutura do hospital para que o médico possa colocar em prática seus conhecimentos técnicos e salvar vidas. E disse: “Paciente grave ir para lá e sobreviver, é mero acaso”.
Já está mais do que provado que investir em propaganda de um serviço que não existe (na forma como o HGE é mostrado na mídia governamental) só piora a situação. As pessoas vão lá para morrer. Ao longo da semana, na maioria dos horários a UTI funciona sem intensivista. Pacientes gravíssimos permanecem na área vermelha sem médico para atender. Em vários plantões, o hospital dispõe de apenas um cirurgião geral para atender todo mundo. Enquanto opera um, a fila de macas cresce no corredor de acesso ao local. Quando a cirurgia termina, o médico é obrigado a escolher na fila de espera o paciente grave “mais viável” para tentar salvar.
Pacientes que saem vivos do centro cirúrgico, depois de todos os esforços envidados pelo médico, vão morrer no pós-operatório, por falta de quem dê sequencia à assistência. A situação do HGE se repete na UE do Agreste. É caso de polícia! A irresponsabilidade do governo está matando quem precisa de assistência médica em Alagoas. Para piorar a situação, o maior pronto socorro do Estado está acéfalo, desde que a última diretoria foi dispensada e que foi anunciada a contratação da empresa Pró-Saúde para terceirizar a gestão da unidade.
SAMU - Nos últimos dias, o que mais tem deixado indignados os médicos do HGE e UE de Agreste é o anúncio, pelo governo, da vinda do presidente Lula a Alagoas para entregar mais 40 ambulâncias do Samu. Mas para quê, se o Samu não tem nem um quadro próprio de médicos? Hoje, já tem USA que fica na base por falta de médico para atender os chamados. O que será feito, então, com mais essas 40 ambulâncias? Ambulância não é médico. É só para levar paciente grave para morrer no HGE ou UE do Agreste, sem assistência? Então, não precisa. Para isso, já tem espalhadas pelos quatro cantos do Estado dezenas de “ambulâncias cidadãs”. Tudo isso é enganação, é só para iludir o povo.
Não precisa mais de ambulância do Samu. Precisa de concurso público para contratação de médicos e, antes disso, precisa da efetivação de uma política salarial digna para a categoria. Com o salário que está aí, dificilmente aparece candidato, caso seja aberto concurso. E outra: a situação vai continuar piorando. Os médicos efetivos continuam deixando o Estado; e ninguém mais quer ser prestador de serviço. Não vale a pena. O desgaste é muito grande.
PRO-HOSP: OUTRA ENGANAÇÃO
Outro engodo que não dá resolutividade nenhuma e faz crescer as filas de espera por cirurgias em Alagoas: o Pró-Hosp. A contratualização feita com os hospitais conveniados ao SUS corresponde a apenas 10% da demanda por cirurgias em Alagoas, nas mais diversas especialidades. Atualmente, o HGE tem em fila de espera por cirurgia mais de 60 pacientes só de ortopedia, mas os hospitais conveniados não têm como receber esses doentes.
Isso já foi alvo de denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) em Alagoas, mas até agora a situação persiste. Nada aconteceu para garantir que os doentes que dependem do serviço público de saúde tenham direito à assistência.
O que tem morrido de doente por falta de cirurgia é vergonhoso. São quadros como pé diabético, câncer de próstata e inúmeros outros, em que o paciente sofre terrivelmente, abandonado, desassistido, até morrer. Ninguém faz nada. A própria população está alheia, descrente, desenganada, e não reclama mais.
Na avaliação da diretoria do Sinmed, o governo foi, mais uma vez, irresponsável, contratualizando serviços num patamar muito abaixo da demanda. Mesmo assim, a contratualização só aconteceu depois de muitas denúncias e pressões de instituições e entidades, como a Defensoria Pública e o próprio Sinmed.
Mas nos termos em que ocorreu, essa contratualização não passou de mais um processo de enganação do atual governo. Não serve de nada. Uma lástima.
*** *** *** *** ***
Coluna do Sinmed - Jornalista Responsável: Sandra Serra Sêca (Reg. MTE/AL359)
Estagiários: João Mousinho e Erika Ornelas - Contato: sinmedal@hotmail.com
Acesse: www.sinmed-al.com.br