A Verdade : HGE de Alagoas em 22 de setembro de 2010.Corredor da Área Azul
O tema mentira é bastante atual principalmente em época de eleição . O guia eleitoral serve de modelo e estudo da mente humana para aqueles que lidam com os mistérios da alma .
O corpo fala ,reflete e projeta a olhos vistos a verdadeira imagem do homem.Não é possível esconder a verdade presa pela mentira no pensamento.
Observem no seu candidato : as expressões faciais, o olhar, a fala e os movimentos das mãos !, e principalmente se é lógico o que ele profere.
É preciso encontrar a cura para o grande mal ,que se multiplica como um vírus letal a dizimar a sociedade .
.
Se há o mentiroso, é porque existe alguém para escutá-lo !
E como pedra fundamental para o início da pesquisa e cura para a mentira institucional ,deixo um interessante artigo para leitura e reflexão antes do dia 03 de outubro de 2010 !
Mário Augusto
SOBRE A MENTIRA
Em algumas ocasiões parece haver certa
vontade social de envolver a psiquiatria na questão da mentira,
notadamente quando alguma pessoa mente descaradamente, ou
imotivadamente, compulsivamente e, principalmente, quando sua atitude
mentirosa causa frustrações ou aborrecimentos em outros que não “merecem” tais mentiras. “– Doutor, além de tudo, essa pessoa mente descaradamente...”, costumam se queixar os familiares que acompanham essas pessoas mentirosas ao psiquiatra.
Mas a psiquiatria não se baseia na análise isolada das atitudes. Para
a psiquiatria importa o conjunto da situação existencial na qual se
insere a pessoa, interessa sim os sentimentos, pensamentos e propósitos
que acompanham suas atitudes. Dessa forma, por si só, a mentira não é
suficiente para pensar em diagnósticos.
Pesquisas mostram que todos mentem de uma forma ou outra e, assim
sendo, a dificuldade da psiquiatria está em descobrir qual é a mentira
patológica e qual é a mentira, por assim dizer, fisiológica.
Veremos ainda que existe a mentira institucional, aquela dos
políticos, dos programas de governo, de instituições. São mentiras já
mais ou menos aguardadas e socialmente sabidas como mentiras e mesmo
assim com peso de verdade. “– Nosso programa de desenvolvimento ecológico pretende, até o final do ano, controlar totalmente as queimadas...” “– Senhores
passageiros, a aeronave deve voltar ao aeroporto de partida por um
pequeno problema na ventilação, estamos circulando o aeroporto para
esgotar todo combustível antes do pouso” “– Toda corrupção será apurada...”
Pelas curiosidades em torno desse tema, talvez seja importante
estudarmos um pouco a mentira em si, como fenômeno de falseamento da
verdade, de oposição à veracidade, como mecanismo de conveniência e
convivência social, de estratégia de sucesso, como planejamento
político, enfim, como habilidades de sobrevivência do ser humano (e
parece não ser monopólio do ser humano).
A mentira não deve ser entendida como
uma espécie de contrário da verdade. Ética e moralmente a mentira está
muito mais relacionada à intenção de enganar do que ao teor de
deturpação da verdade e, juridicamente, a mentira está relacionada ao
dolo ou prejuízo que causa a outra pessoa.
A mentira não é apenas invenção deliberada, uma ficção, pois nem toda
ficção ou fábula é sinônimo de mentira. Não pode ser mentira a
literatura, a arte ou mesmo a demência (sintoma da confabulação). A
intencionalidade é que define a mentira, estabelece o dano ou dolo.
Assim sendo, não mente quem acredita naquilo que diz, mesmo que isto seja falso. Santo Agostinho declara que “Quem
enuncia um fato que lhe parece digno de crença ou acerca do qual forma
opinião de que é verdadeiro, não mente, mesmo que o fato seja falso”.
Considerarmos todas as formas de mentira, desde a mentira convencional de dizer Bom Dia
às pessoas sem que, necessariamente, ansiamos para que ela tenha
realmente um bom dia, passando pela mentira humanitária de consolar o
moribundo, pela mentira carinhosa de achar que aquele vestido ficou muito bem
na pessoa amada, o Papai Noel, ou a mentira por omissão, seja ela
médica, política ou policial, enfim, todas essas maneiras de dissimular a
verdade, entendemos melhor as pesquisas que mostram a mentira presente
em todas as pessoas.
Mas, é o propósito com que falamos alguma coisa que definirá a
mentira. Mentir seria dirigir a outro um enunciado falso, cujo mentiroso
sabe conscientemente dessa falsidade, e o faz com objetivo de enganar,
de levar esse outro a crer naquilo que é dito, dando a entender que diz a
verdade.
Como dissemos, para mentir o que conta é a intenção e, voltando a Santo Agostinho, “não há mentira, apesar do que se diz, sem intenção, desejo ou vontade de enganar”.
É a intenção que define se o que foi dito, verdadeiro ou falso, teve ou
não o propósito de enganar. Aliás, excluindo-se o aspecto intencional
de enganar que caracteriza a mentira, é mesmo muito difícil argüir se
uma verdade é mais ou menos verdadeira, de forma a aceitarmos com
facilidade a expressão “a verdade de cada um”. Isso é bem comentado quando estudamos as maneiras pessoais de representar a realidade, quando vimos o termo procepção.
Muitas vezes levadas pela insegurança de ser aceitas tal como são, as
pessoas podem cair na tentação de enriquecer suas histórias e enaltecer
suas habilidades de forma a causar uma impressão mais favorável em
outras pessoas.
É assim, por exemplo, que um ladrão atribui-se mais roubos do que
realmente tenha cometido para melhorar sua imagem diante dos
companheiros de cadeia, ou o jovem que se vangloria de proezas sexuais
muito além do que tenha feito, superando a insegurança de sentir-se
pouco viril, ou a mãe que aumenta um pouco o desempenho escolar de seu
filho, compensando assim o sentimento de inferioridade diante de outras
mães satisfeitas com o rendimento dos filhos delas...
Além de atender diretamente as aspirações próprias, a mentira
satisfaz também interesses de maneira indireta. É o caso, por exemplo,
dos falsos rumores que diminuem, comprometem, execram pessoas que, de
uma forma ou outra, nos ameaçam (às vezes ameaçam apenas nosso bem estar
emocional). Mentir é um recurso fácil de se recorrer, sem necessidade
de se passar por esforços ou penúrias, ainda que haja o permanente risco
de ser descoberto.
Aprendemos desde cedo as vantagens da
mentira. Ainda crianças aprendemos a dizer que a mãe não está em casa,
quando ela quer evitar atender ao telefone. Cedo aprendemos os
benefícios de um atestado médico forjado para comodidade de poder faltar
às aulas de ginástica, e assim por diante. Ah! Não esquecendo das
mentiras a que se obrigam os netos, quando os avós perguntam de quais
avós gostam mais...
Mas o mentiroso também passa por dificuldades, e quanto mais cai na
tentação de mentir, tanto mais difícil vai ficado controlar a abundante
base de dados das versões de suas mentiras, mais difícil vai ficando
garantir a coerência de suas estórias, mais necessidade de novas
mentiras para encobrir as antigas.... a farsa cresce em progressão
geométrica.
Não é possível para a psiquiatria estabelecer o estereótipo do mentiroso; cada caso é um caso. A maioria das pessoas se encaixa nos mentirosos fisiológicos, e a mais fisiológica das mentiras são os falsos elogios – “ora, você está sempre igual, parece não envelhecer...”. Esses mentirosos fisiológicos se servem das mentiras também para a elaboração das mais esfarrapadas desculpas – “não pude comparecer ao enterro porque uma tia minha teve que ser internada...” E o interessante é que o outro, igualmente mentiroso fisiológico, também mente, fingindo acreditar.
Diante dessa freqüência fisiologicamente humana há, naturalmente, uma
tendência em banalizar a mentira, ou inocentemente classificar nossa
mentirazinha cotidiana como sendo do tipo positiva, aquela que além de não prejudicar pode até ajudar pessoas (...o senhor me parece mais saudável hoje do que ontem... conheci seu filho, um jovem magnífico...), ou mentira negativa, aquela que prejudica.
Enfim, a mentira fisiológica pode até facilitar a integração social, e
de tal forma que as pessoas com inata dificuldade para essas
mentirinhas corriqueiras são tidas como ingênuas, socialmente pouco
habilidosas, falta-lhes jeito ou, como se diz espertamente, não têm
“jogo de cintura”.
Uma das razões interiores mais comuns para mentir é a insegurança ou
baixa auto-estima. Como dissemos, a mentira passa ao outro uma imagem de
nós próprios muito melhor do que de fato acreditamos ser. Mente-se
também por razões externas, de acordo com as pressões para sucesso na
vida em sociedade, por razões políticas ou até econômicas, quando o
prejudicado for o fisco.
Finalmente há mentiras por razões patológicas, desde aquelas
determinadas por uma personalidade problemática, até as outras,
produzidas por neuroses francamente histriônicas, como é a Síndrome de
Münchhausen e de Ganser.
Mentirosos contumazes, de dinâmica psíquica rica em conflitos e
complexos, que representam personagens tal como fazem os atores, e
refletem aquilo que gostariam de ser. Ao perderem o controle sobre o
impulso de mentir o personagem criado suplanta o ego e a personalidade
toda é tomada por um falso e inaltêntico ego.
Obviamente, nem todas as vezes que a realidade é falseada, distorcida, recriada ou substituída se constituirá uma mentira. Na Demência,
por exemplo, a cognição é de tal forma comprometida que a pessoa relata
aos outros um mundo profundamente modificado e no qual acredita, sem a
intenção de ludibriar. O mesmo acontece no Delírio, seja do psicótico esquizofrênico, do delirante crônico ou do deprimido grave com sintomas psicóticos.
Aliás, desde crianças aprendemos a abstrair a realidade através dos
devaneios, fantasias, fábulas. A própria literatura pode nos conduzir a
um mundo apaixonante “de mentirinha”.
E como a concepção da mentira se embasa na intencionalidade, esta
pode ser singela e acanhada, como é o caso de uma mentira tosca e pueril
da pessoa que namora mas afirma o contrário, com o propósito de
facilitar uma conquista amorosa, até uma mentira de proporções
inimagináveis, como por exemplo, o falso relatório sobre a existência de
um arsenal de armas de destruição em massa no Iraque, como
justificativa para uma guerra igualmente de destruição em massa.
Há a mentira institucional, quando a propaganda mal intencionada
tenta convencer de que toda corrupção governamental será devidamente
apurada e apenada. Bem ilustra isso, Hannah Arendt, lembrando que “As
mentiras sempre foram consideradas instrumentos necessários e
legítimos, não somente do ofício do político ou do demagogo, mas também
do estadista” (in. Derrida, 1996).
Mas não é intenção deste trabalho discorrer sobre espécies de
mentiras dissimuladas em regras de convivência e sucesso social, como
por exemplo, garantir que se usando tal creme cosmético haverá pronto desaparecimento de rugas, ou que esse plano de saúde realmente é melhor que os outros... Não seria adequado, aqui, atribuir ao marketing o exercício da má fé.
Síndrome de Münchhausen
O hábito arraigado de mentir fantasticamente pode refletir um Transtorno da Personalidade que alguns autores chamam de “pseudologia fantástica”,
que seria caracterizado por uma compulsão a fantasiar uma vida fictícia
para causar grande mobilização e perplexidade em outras pessoas
(Catalán, 2006), outros autores denominam de Síndrome de Münchhausen.
Nesta síndrome a pessoa não suporta a idéia dela ser comum, normal,
trivial... Não. Ela tem que ser super especial, tem que ter
peculiaridades completamente excepcionais e fantásticas. Essa
inclinação impulsiva para a mentira reflete uma grande vontade em ser
admirado, de ser digno de amor e consideração pelos demais,
conseqüentemente reflete uma grande insatisfação com a real e medíocre
condição existencial.
A Síndrome de Münchhausen é relativamente rara, de difícil
diagnóstico, e caracterizada pela fabricação intencional ou simulação de
sintomas e sinais físicos ou psicológicos sempre de natureza fantástica
em um filho ou em si próprio, levando a procedimentos diagnósticos
desnecessários e potencialmente danosos. Há sempre uma fraude
intencional nessa síndrome.
Em 1951, Asher idealizou o termo Síndrome de Münchhausen para
descrever os pacientes que produziam e apresentavam intencionalmente
sintomas físicos para receber tratamento médico e hospitalar freqüente.
Uma das características associadas mais freqüente era a mentira
patológica, juntamente com uma vasta história de atendimentos médicos e
internações hospitalares.
Alguns casos de depressão grave
também podem ser acompanhados de mentiras patológicas. Nessa situação a
pessoa se coloca em um verdadeiro emaranhado de estórias, desculpas e
relatos que vão cada vez complicando mais a sustentação da mentira.
As mentiras iniciais na depressão têm, normalmente, o propósito de
ocultar algum acontecimento que deixaria outra pessoa triste,
aborrecida, decepcionada. Daí em diante, há contínua necessidade de
novas mentiras para completar a primeira. Percebe-se que, consoante a
preocupação do deprimido com o sentimento do outro, ele mente para
poupar maiores sofrimentos desse outro, mas o resultado é sempre
desastroso.
Na depressão as mentiras, ao contrário da sociopatia, são acompanhadas de importante sentimento de culpa e arrependimento.
Transtornos do Controle dos Impulsos (veja)
No
Jogo Patológico, na Cleptomania, na Bulimia, na Dependência Química e
outros Transtornos do Controle dos Impulsos existem muitas mentiras,
cujo objetivo é ocultar um comportamento sabidamente reprovado
socialmente.
O quadro mais grave onde a mentira aparece como sintoma importante é o Transtorno Anti-Social da Personalidade, ou Personalidade Psicopática.
Embora qualquer pessoa possa mentir, temos de distinguir a mentira
banal da mentira psicopática. O psicopata utiliza a mentira como uma
ferramenta de trabalho. Normalmente está tão treinado e habilitado a
mentir que é difícil captar quando mente. Ele mente olhando nos olhos e
com atitude completamente neutra e relaxada.
O psicopata não mente circunstancialmente ou esporadicamente para
conseguir safar-se de alguma situação. Ele sabe que está mentindo, não
se importa, não tem vergonha ou arrependimento, muitas vezes mente sem
nenhuma justificativa ou motivo.
Normalmente o psicopata diz o que convém e o que se espera para
aquela circunstância. Ele pode mentir com a palavra ou com o corpo,
quando simula e teatraliza situações vantajosas para ele, podendo
fazer-se arrependido, ofendido, magoado, simulando tentativas de
suicídio, etc.
A personalidade do psicopata é narcisística, quer ser admirado, quer
ser o mais rico, mais bonito, melhor vestido. Assim, ele tenta adaptar a
realidade à sua imaginação, à seu personagem do momento, de acordo com a
circunstância e com sua personalidade é narcisística. Esse indivíduo
pode converter-se no personagem que sua imaginação cria como adequada
para atuar no meio com sucesso, propondo a todos a sensação de que
estão, de fato, em frente a um personagem verdadeiro.
Ballone GJ - Sobre a Mentira - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, 2006
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