Emmanuel Fortes |
Mais uma vez os médicos tiveram a oportunidade de mostrar força e união num pleito político partidário e deixaram de fazê-lo para reclamar depois. É impossível pensar em mudanças na relação da sociedade com os médicos, dos políticos para com os médicos, sem que os próprios médicos mudem sua forma de agir. Se as coisas estão ruins, em boa parte das vezes são consequência da ausência dos médicos no foco das decisões, da indiferença com as mobilizações orientadas pelas lideranças nacionais ou locais.
As denúncias feitas e apuradas, a demora nas mudanças do que pleiteamos, a necessidade do fortalecimento em Leis próprias do papel dos Conselhos de Medicina, as multas que precisamos aplicar pelo desacato de governos e entes privados, só irão acontecer quando os próprios médicos entenderem a importância de suas escolhas e tivermos parlamentares e governantes compromissados com a profissão médica. Um líder classista tem o limite dos discursos, e suas ações só se darão no estreito mundo da corporação. Tudo que depender de terceiros para ser resolvido, só acontecerá se o terceiro quiser ou se a lei obrigar. É necessário estarmos conscientes disso. Muito do que fizemos dependeu mais de uma boa relação, respeito e credibilidade da Instituição que da força da Lei. Isso, porém, não é suficiente; precisamos da Lei para coibir, coagir, punir os desacatos. Não teremos isso se os médicos não entenderem que antes de tudo terão de fazer sua parte.
Não posso deixar de reconhecer que perante o médico e o estabelecimento médico temos poder, mas, não adianta muito ficar procurando os culpados dentro da corporação ou de sua hierarquia. Punimos os médicos, os diretores médicos, mas, nada muda, porque quem tem a chave do cofre, quem governa não é alcançado.
Peço que reflitam, temos tempo para discutir, refletir e agir, se não foi agora que seja a partir de hoje, sonho com isso, sonho com uma medicina unida em prol de sua defesa, em prol do bom comportamento ético e técnico, na solidariedade entre os pares e com os assistidos por nós.
Obrigado pela confiança de tantos anos.
Emmanuel Fortes - Psiquiatra, presidente do Cremal e vice-presidente do CFM Publicado no(a): Revista Reflexão Médica Em: 17/10/2010