“Estou vivendo no mundo do hospital / tomando remédios de psiquiatria
mental / Haldol, Diazepam, Rohypinol, Prometazina
/ Meu médico
não sabe como me tornar um cara normal / Me amarram, me aplicam,
me sufocam num quarto trancado/ Socorro! Sou um cara normal
asfixiado / Ai, ai, ai, que sufoco da vida! Sufoco louco! / Tô cansado
de tanta levomopromazina.”
Nise Magalhães da Silveira
Uma mulher extraordinária. Assim Nise Magalhães da Silveira era conhecida. A alagoana que ingressou na Escola de Medicina da Bahia aos 15 anos tem sua história contada pelo psicólogo Walter Melo Jr., no novo volume da Coleção Pioneiros da Psicologia – Nise da Silveira, com selo da Imago Editora. O autor é ex-coordenador da Casa das Palmeiras, insti-tuição criada por Nise da Silveira que deu vida, amor e arte à psiquiatria nacional.
A vida e o trabalho desenvolvidos por Nise da Silveira mostram como ela foi corajosa e sempre esteve à frente de seu tempo. Um ano depois de ter se formado, ela vem para o Rio de Janeiro e passa a freqüentar a clínica de Neurologia da Faculdade de Medicina. Em 1935 participa da União Feminina do Brasil, entidade de defesa dos direitos das mulheres, ligada à Aliança Nacional Libertadora. No ano seguinte é presa como comunista, ao lado de Olga Prestes, e afastada do serviço público por um longo período. Quando volta à ativa, encontra “tratamentos psiquiátricos” que surgiram durante sua ausência: choque elétrico e lobotomia, entre outros. Mas a Dra. Nise da Silveira sempre se recusou a utilizar esses métodos pelo fato de se assemelharem à tortura assistida por ela no período de prisão.
Nise da Silveira deixa clara sua postura contra a Psiquiatria tradicional e passa a dar atenção especial a trabalhos desenvolvidos por doentes psiquiátricos em ateliês de pintura e modelagem. Em maio de 1952 funda O Museu de Imagens do Inconsciente, centro de tratamento e pesquisa. A Dra. Nise é celebrada pelo fato de ter conseguido transformar atividades de Terapia Ocupacional em obras de arte feitas pelos internos. A psiquiatra passa a trabalhar com as imagens do inconsciente reproduzidas pelos doentes nos desenhos realizados. Nise da Silveira percebe que os pacientes tentam reorganizar suas idéias a partir desses trabalhos, o que vai contra os estudos sobre a produção plástica de internos em hospitais psiquiátricos. Ela se baseia na teoria do médico suíço Carl Gustav Jung, que se interessa pelo trabalho da brasileira.
Nise da Silveira é uma daquelas personagens inesquecíveis, não só pela dedicação ao trabalho, mas também pela doçura com que lida com a loucura. Mesmo depois de ter sido aposentada compulsoriamente volta a trabalhar como “estagiária voluntária”.
Uma mulher forte, marcante e considerada por todos uma profissional brilhante. Este é o retrato de Nise da Silveira que deixou a Psiquiatria mais pobre em 1999, quando morreu no Rio de Janeiro. Entretanto, ela permanece na consciência (e no inconsciente) de todos os que buscam novas perspectivas no tratamento de doentes mentais.
História de Nise Magalhães da Silveira
Fontes:Museu do Inconsciente , República da Comunicação e UFRJ