Não contabilizo as mentiras que se materializam em gestos, se expõem em sorrisos, apertos de mão e tapinhas nas costas! Muitos foram os omissos e covardes a tentar me convencer que a dor cega e enlouquece uma mãe.
Desminto seus vis argumentos! A dor é um colírio poderoso, quem não enxergar através dela precisará de ato cirúrgico, pois que a verdadeira cegueira aí se instaurou. Foram as lágrimas mais volumosas que limparam o cristalino, conferindo aos meus olhos a potência da visão.
Vi o descaso com o qual a vida e a morte são tratadas em Alagoas! Senti na pele a humilhação de quem sobe os infames degraus do IML; a frieza e arrogância do legista, a banalização do próprio erro e o empurra de culpas. No atestado de óbito do meu filho um endereço estranho: uma rua que não conheço, uma cidade onde não viveu nem morreu, contudo, o IML não assumiu nem desfez o erro. Está registrado assim!
Minha loucura foi expressar a indignação diante de todos os “erros” institucionais! Minha sanidade é denunciar o descompromisso e prever a esperança como fruto de uma luta assumida por todos, quanto mais evitada, mais retardada! A cada dia vejo o renascer o sol...a cicatrização que ele anuncia não entorpecerá a mente, nem subornará o coração!
Meus filhos são cada um dos meninos despojados de oportunidades, a perambular pelas vielas da dor, do abandono, da perseguição...os órfãos do meu tempo...
Sempre que eu falar de esperança estarei acariciando um rosto de filho!
Meu jejum absoluto de jamais sentar na mesa da iniqüidade, manterá o canto triste e contínuo na minha voz. Cada vez mais materna! Cada vez mais cidadã! Mais humana...
Nem anéis, nem medalhas, nem reconhecimento me interessam!
A luta pela vida, e pela vida em abundância, é o combustível do meu respirar! Na consciência de que sou mãe, vítima da violência social e institucional em Alagoas, com olhos de ver e mente de pensar.
Artigo original da Socióloga Ana Cláudia Blog