![]() |
Suruagy |
Um calote inédito na história de Alagoas mudou o destino do governador Divaldo Suruagy na semana passada. Suruagy, que comanda desde o início de seu mandato a sangria do dinheiro público alagoano e preside um caos sem precedentes desde que o Estado é Estado, teve, finalmente, de se curvar à realidade. Falido, o Estado não teve como honrar títulos públicos no valor de 104,3 milhões de reais. Em vez das injeções de mais recursos, Brasília rompeu a tradição e chamou um cirurgião. A incumbência: amputar as mãos que manipulam a caneta gastadora. As mãos de Suruagy. Ele não poderá mais assinar cheques por conta própria nem emitir títulos para aumentar a dívida. Seu secretário da Fazenda será um homem de confiança do ministro Pedro Malan. Fernando Henrique Cardoso deu ao governador a opção de escolher um nome numa lista de três para ocupar o posto. Com isso, desde a semana passada, apenas em teoria Suruagy continua governador. Na prática, sofreu um golpe branco. "É uma intervenção sem a formalidade do ato", esclarece um senador da terra.
Os títulos públicos que micaram no dia 1º, domingo, foram lançados em novembro do ano passado pelo governo alagoano e continuarão "micados" nas mãos de dezenove instituições financeiras, entre bancos e corretoras de valores. O resgate só acontecerá quando o Estado tiver dinheiro, e isso ninguém ousa prever quando acontecerá. Como os títulos foram emitidos sob alegação de que pagariam dívidas judiciais, os precatórios, e eles não existiam, o Tesouro Nacional acatou uma recomendação da CPI que cuida do assunto: nada fará. Alagoas que se vire. O raciocínio do governo é o seguinte: os compradores dos títulos foram gulosos demais atrás do juro apetitoso -- era de 37% ao ano -- e, para tanto, correram o risco de se dar mal. Agora, que se estrepem. Na quinta-feira, Suruagy esteve com o presidente Fernando Henrique Cardoso e aceitou a intervenção. À tarde, encontrou-se com o ministro da Fazenda. Saiu das reuniões macambúzio, teimando em dizer que sua autoridade não sofrera nenhum arranhão: "Não há intervenção, é tudo fantasia".
Cadeia ou hospício -- O ineditismo da intervenção federal branca em Alagoas justifica-se. Em 1995, quando assumiu pela terceira vez o governo do Estado, Suruagy tinha uma dívida de 650 milhões de reais para rolar. Duas folhas e meia de salários do funcionalismo estavam atrasadas. Dois anos e meio depois, Alagoas deve 1,7 bilhão de reais -- o rombo cresceu 161% -- e o governador não paga os salários dos 50.000 funcionários públicos há sete meses. É verdade que o governo anterior deixou os cofres do Estado a zero, mas Suruagy inventou operações financeiras tão ruins para salvar as contas públicas que, no mercado financeiro, já se tornou alvo de uma piada. Se ele fosse executivo de um banco sério, teria sido despedido, diz a anedota, e, se esse fosse estrangeiro, estaria na cadeia. Agora, se o banco fosse suíço, Suruagy estaria num hospício. De início, houve empréstimos para pagar as contas mais urgentes -- e, depois, mais empréstimos para pagar os empréstimos. Nem as operações com letras do Tesouro, que resultaram no escândalo dos precatórios, surtiram efeito.
O governo federal até ensaiou ajudar o Estado, desde que Suruagy enxugasse a máquina. Promoveu-se o Programa de Desligamento Voluntário, PDV, para incentivar os funcionários a pedir demissão. Metade dos funcionários aderiu, um sucesso de fazer o ministro da Administração, Luiz Carlos Bresser Pereira, roer-se de inveja. Mas foi um desastre econômico. Dos 25.000 demissionários, 13.000 eram da Educação e 5.000 da Saúde, justamente as áreas essenciais. Foi tanta adesão que não havia dinheiro para pagar aos interessados. De cada dez funcionários que pediram para ir embora, apenas quatro já receberam seus direitos.
A história completa aqui