As leishmanioses cutâneas continuam sendo uma das endemias de maior ocorrência no Mundo; estimando-se que 12 milhões de pessoas estejam acometidas pela doença. No Brasil são notificados em torno de 30.000 casos por ano e; em Alagoas; cerca de 100 casos anuais. A escassez de estudos que identifiquem os fatores de risco para transmissão da Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) justifica a presente pesquisa; no sentido de subsidiar as ações de um programa de controle. O objetivo do presente trabalho foi o de identificar os fatores de risco para transmissão da LTA no estado de Alagoas; Brasil. Realizou-se um estudo de casocontrole prospectivo; pareado por sexo e faixa etária; utilizaram-se dois grupos controle independentes: um de vizinho do caso e; outro; de indivíduos sorteados de uma família da Unidade de Saúde da Família onde o caso ocorreu. Aplicou-se aos participantes um questionário padronizado com questões referentes a potenciais fatores de risco para LTA. Realizou-se a coleta de dados no período de 01 de julho de 2004 a 01 de fevereiro de 2007; sendo selecionados 98 casos e igual número de controles em cada grupo. Considerou-se caso o indivíduo com forma cutânea de leishmaniose; com confirmação laboratorial e cura clínica da lesão após tratamento; e controle; o indivíduo com Intradermorreação de Montenegro negativa. Na análise multivariada para variáveis sociais e as relacionadas com a unidade domiciliar; foi verificada uma associação mais estreita; aumentando o risco; com os seguintes fatores: ausência de fogão a gás (para os dois grupos controle); para os controles vizinhos: ter quatro anos ou menos de estudo e renda familiar maior que um salário mínimo; e para os controles da comunidade: ter material da parede da casa não durável e renda per capita maior que cinqüenta reais. Ao analisarem-se conjuntamente os grupamentos das variáveis relacionadas com as atividades laborais ou escolares; de lazer; atividades extradomiciliares; e peridomicílio e meio ambiente verificou-se uma associação mais estreita com os seguintes fatores: mata a menos de 200 metros da casa (para os dois grupos controle); para os controles vizinhos: presença de pássaros dentro da casa; lazer na mata e atividade laboral ou escolar rural; e para os controles da comunidade: presença de animais dentro da casa; ausência de cães e de gatos ao redor da casa. O padrão de transmissão observado foi do tipo rural e periurbano; com transmissão ocorrendo possivelmente no peri ou intradomicílio. Esta afirmativa foi possível pela a forte associação da doença com as condições de moradia (ausência de fogão a gás e material da parede não durável); com a proximidade da casa com a mata e com os animais criados no interior do domicílio. Baseado nos achados observados é possível recomendar medidas de controle específicas: proteção dos indivíduos que praticam atividades de lazer na mata com roupas adequadas e repelentes; distanciamento das casas de alvenarias a uma distância maior que 200 metros da mata; eliminação da criação de pássaros ou outros animais no interior das casas; e gerais: promoção da melhoria das condições de habitação e de vida.
Fonte: Domínio Público