A crise na saúde pública do Estado- como se pode perceber nas cenas de pacientes espalhados pelo chão nos corredores do Hospital Geral do Estado (a maior unidade pública alagoana)- nem de longe pode ser comparada ao vigor financeiro da Secretaria Estadual de Saúde, conforme movimentação do Fundo Estadual de Saúde.
Dados levantados pelo RA mostram que, apesar da carência de profissionais da saúde como médicos e enfermeiros- os gastos com o Fundo Estadual de Saúde poderiam ser aplicados na contratação de concurso público, por exemplo, diminuindo o caos nas unidades públicas de atendimento a população.
Os gastos com viagens de avião- na maioria dos casos- somam- só este ano- R$ 868.140,22. Os destinos não são informados e a motivação para as viagens também não são disponibilizados ao público.
Com locação de carros, a Secretaria Estadual de Saúde poderia, só este ano, comprar 9 Renault Clio- um automóvel popular, com ar condicionado. Novinhos.
Mas, preferiu a locação. E desembolsou R$ 207.447,93 de janeiro a maio deste ano.
Como não tem um helicóptero próprio para um transporte mais rápido de pacientes, o Fundo gastou, este ano, R$ 1,1 milhão com a locação de aeronaves. Elas ajudam o trabalho do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o Samu.
O dia a dia de um hospital
Mais que agulhas, seringas e profissionais da saúde. O dia a dia de uma unidade hospitalar tem a disciplina de um quartel.
Quando os serviços funcionam, os atendimentos também surtem efeito. Isso se não faltar dinheiro.
Mas, nos hospitais públicos ou unidades de saúde mantidos pelo Governo não se pode falar em falta de recursos.
O problema é a forma como são gastos.
A contratação da empresa de vigilância Tigre, por exemplo, consumiu, este ano, R$ 3,6 milhões.
Isso não impede, por exemplo, que os funcionários do HGE reclamem do furto de objetos pessoais dentro da unidade- em tese, cercada de câmeras e seguranças por todos os lados.
Em serviços prestados, a Saúde gastou R$ 2,03 milhões, só este ano. Isso com profissionais que não são contratados de forma definitiva no serviço público, mas com contratos temporários.
Não é tão diferente para os serviços gerais dos hospitais e postos de saúde mantidos pelo Governo. No lugar de concurso, o Fundo Estadual de Saúde pagou a empresa Reluzir Serviços Terceirizados R$ 3,1 milhões, de janeiro a maio. É o preço para se varrer o chão e apanhar o lixo.
Isso vem garantindo um melhor atendimento do SUS em Alagoas? Parece que não. Até maio, o Fundo Estadual de Saúde desembolsou R$ 9,6 milhões para o pagamento de plantões dos profissionais da saúde.
E sem concursos para a contratação de neurocirurgiões, o Fundo pagou R$ 963.999,96 a uma cooperativa.
A Secretaria Estadual de Saúde é alvo de dois inquéritos civis públicos, de iniciativa do Ministério Público Federal. Eles apuram a morte de bebês na maternidade Santa Mônica- a única, mantida pelo Governo, que atende gestantes de alto risco- e a contratação de organizações sociais- ao invés da realização de concurso público.