Daniel Freire Nakamura |
Dois médicos ginecologistas se envolveram numa briga feia dentro do Hospital e Maternidade Unimed, em Manaus, no último domingo, 16 de outubro. Um deles, o presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (SIMEAM), Mário Rubens Viana, invadiu o conforto do hospital onde o outro, Daniel Freire Nakamura dava plantão, arrebentando um jarro de vidro com suco de frutas na cabeça dele, que revidou com uns catiripapos.
No final, Daniel levou quatro pontos na cabeça e mais quatro no antebraço, além de múltiplos pequenos cortes em todo o corpo. Eu vi a foto, é assustadora para quem, como eu, desmaia quando vê sangue. Mário Viana ficou com duas costelas fraturadas, mas a foto não foi publicada. A briga, registrada em alguns jornais locais e no Blog do Marcos Santos, dividiu os leitores, que fizeram comentários, alguns deles apaixonados, outros mais objetivos. Afinal, quem são os dois médicos e por que brigaram dentro do próprio local de trabalho?
Deixemos falar quem os conhece. O perfil de um deles é traçado por Aldelice Fontes que escreveu: “Trabalhei com o dr. Daniel há anos, nunca tive nenhum problema com ele, sempre foi sério no seu trabalho, suas pacientes amam o que ele faz, digo porque sou testemunha. Muitas vezes, chegam sem ser agendadas, atende a todas, cansei de sair às 22:30 de seu consultório, cada consulta dura em torno de 30 a 40 minutos. Ele só fica chateado quando alguém não faz seu trabalho direito”. Sua paciente Karolini confirma: “O doutor Nakamura é generoso, excelente médico, jamais machucaria alguém”.
Quem traça o perfil do segundo é Sigrid Cardoso, que disse: “Trabalho com Mário Viana há uns 15 anos e nunca o vi fazer nenhuma agressão física a quem quer que seja. O Mário é um daqueles poucos que tem o coração voltado para o bem, um ser humano maravilhoso e um profissional sem igual”. Outra leitora do blog do Marcos Santos, que se identificou com as iniciais MAS, jura que sua mãe foi operada pelo dr. Mário, que a salvou da morte. Admite que o viu esbravejar com uma enfermeira, mas foi na defesa de seus pacientes.
Os dois médicos provavelmente possuem, além de alguns defeitos como qualquer um de nós, essas qualidades descritas por pessoas que com eles conviveram. Por que saíram na porrada dentro de um hospital, que é um lugar para tratar e não para causar ferimentos? Parece que os médicos estão muito estressados, talvez por excesso de trabalho, como sinaliza Renato, outro leitor, o que explicaria tanta agressividade. De qualquer forma, dois médicos só brigam quando os dois querem. Mas afinal o que foi mesmo que aconteceu?
Daniel cumpria seu plantão como ginecologista e obstetra quando um funcionário do SIMEAM entrou no conforto médico para afixar um cartaz no mural local. Os dois tiveram um diálogo um pouco áspero, quando Daniel criticou o sindicato, para o qual descontava o imposto sindical obrigatório e não via os resultados em benefício da categoria. Depois da saída do funcionário, o médico se dirigiu ao centro cirúrgico para auxiliar uma cesariana.
Retornou ao conforto com sua colega de plantão, Giovana Colares. Foi aí que o presidente do SIMEAM, Mário Viana, invadiu o local de trabalho, “aos berros”, para tomar satisfação. Começaram um bate-boca. Daniel manifestou seu descontentamento em ter que descontar obrigatoriamente o imposto sindical dizendo que respeitava Mário Viana como médico, mas que o sindicato era uma porcaria.
O presidente do Sindicato deu-lhe, então, um soco. Daniel revidou. O pau comeu na casa de Noca. A médica ali presente ainda tentou apartar a briga, mas Mário Viana arrebentou a jarra de vidro na cabeça do colega, causando-lhe vários ferimentos. Na versão do presidente do sindicato, quem agrediu primeiro foi “dr. Daniel, praticante de artes marciais”, ele apenas revidou: “Apesar do tamanho, alucinado e amedrontado pela minha reação, (Daniel) tentou me atingir com uma cadeira de ferro”.
As duas versões são contraditórias. A única pessoa que testemunhou o arranca-rabo foi a Dra. Giovana, que confirma a versão de Daniel Nakamura. O leitor Elvis comentou: “Não conheço bem o dr. Daniel, nem o presidente do Sindicato. Mas conheço muito bem a Dra. Giovana Colares. Ela é uma médica muito íntegra, honesta e competente. Se ela realmente é testemunha e confirma a versão, então o dr. Daniel está falando a verdade”.
Agora, Mário Viana está usando a máquina do sindicato, do qual é presidente, para com o dinheiro do imposto pago pelos médicos, publicar e fazer circular a sua versão dos acontecimentos, através de emails enviados aos médicos que estão listados na mala direta do sindicato. Somente a sua.
Num bate-boca, afirmar que o SIMEAM “é um sindicato de merda” não justifica, absolutamente, que o autor da frase seja agredido e ferido pelo presidente do sindicato, que dessa forma acaba confirmando a justeza do julgamento. Eu criticaria o dr. Mário Viana, mesmo se Daniel Nakamura não fosse meu sobrinho, a quem tanto quero, e aproveito para passar tal informação ao leitor, para não enganar ninguém e saberem o lugar de onde estou falando e relativizarem o que escrevo.
23/10/2011 - Diário do Amazonas