20 de novembro de 2011
BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
A deputada Ceci Cunha encarna uma dessas comoventes histórias de superação. Filha de pais pobres e sem instrução, ela teve dificuldades para estudar e se formar em medicina. A necessidade de cortar palma quando criança deixou cicatrizes permanentes em suas mãos. Na infância, estudava escondido, à noite, pois a mãe achava que o estudo era perda de tempo para mulheres.
Por conta de seu trabalho como médica, Ceci Cunha elegeu-se em 1988 como a vereadora mais votada de Arapiraca. Em 1994 venceu a eleição para a Assembleia Legislativa de Alagoas e em 1998 tornou-se a primeira mulher alagoana eleita para a Câmara dos Deputados. Em março de 1999, o suplente Talvane Albuquerque chegou a assumir o lugar dela na Câmara, mas logo foi cassado por quebra do decoro, por sua ligação com os pistoleiros presos pelo crime.
Ceci deixou órfãos dois filhos: Adriana e Rodrigo, este com apenas 17 anos à época. O caso demorou tanto a ser julgado que deu tempo de Rodrigo se formar em direito e hoje dedicar os conhecimentos adquiridos no combate à lentidão da Justiça e à impunidade dos assassinos de sua mãe.
Ele criou um blog que acompanha todos os passos do processo. "Foram tantas manobras protelatórias amparadas nas falhas do sistema que, após 13 anos de espera e impunidade, a sensação é de que a justiça não será feita", lamentou Rodrigo. "Eu acredito na condenação dos assassinos, mas o sentimento de justiça se perdeu no tempo."
O caso Ceci foi incluído, em janeiro deste ano, no Programa Justiça Plena, da Corregedoria Nacional de Justiça, que tem a finalidade de monitorar o andamento de processos de grande repercussão social que estão com andamento paralisado. O relator é o juiz Erivaldo Ribeiro dos Santos. "Admitimos todos os recursos e a mais ampla defesa dos acusados, mas o Judiciário não pode titubear e aceitar expedientes protelatórios desse tipo", criticou.
Para ele, o caso desmascara a forma como o Judiciário trata crimes graves envolvendo autoridades ou políticos influentes. "No momento que a imprensa deixa de jogar luz, a Justiça deixa de se interessar e isso não pode acontecer."