Domingo, 20/11/2011
A aparência dócil e frágil da dona Maria de Fátima Silva, de 62 anos, nem de longe lembra uma mulher procurada pela polícia por tráfico de drogas. Conhecida no bairro de Ponta Grossa, em Icoaraci, por “vovó do tráfico”, ela foi detida no dia quatro de novembro passado, após um minucioso trabalho de investigação do serviço de inteligência do 10º Batalhão da Polícia Militar.
“A investigação durou aproximadamente 15 dias. Tínhamos a informação que uma senhora acima de qualquer suspeita estaria vendendo entorpecentes em sua casa. Após um levantamento detalhado da área e a partir da confirmação da denúncia, conseguimos efetuar a prisão em flagrante. Na casa dela foram encontradas 60 petecas de cocaína”, relatou o capitão Martins, do 10º BPM.
Durante o depoimento na seccional urbana de Icoaraci a mulher não quis falar com a imprensa. Para os policia, ela negou o envolvimento com a venda de entorpecentes e disse desconhecer a origem da droga encontrada em sua casa.
A prisão de dona Maria de Fátima, apenas confirma os dados da Policia Civil sobre o crescimento de idosas envolvidas com o tráfico de entorpecentes.
ESTATÍSTICA
Apenas na primeira semana de novembro, quatro mulheres entre 55 e 70 anos foram detidas por tráfico de drogas na Grande Belém. Casos como o de Jane Eleonil Soriano da Costa, 58 anos, e Ana Castilho dos Santos, 55.
Jane da Costa, que revelou ser portadora do vírus HIV, diz que começou a vender entorpecentes em sua casa, no bairro do Paracuri, em Icoaraci, após a morte do marido. “Era uma maneira pra sobreviver, sou sozinha, diabética, e ainda por cima tenho AIDS que peguei do meu marido”, revelou.
Detida no inicio deste mês por policiais da seccional de Icoaraci com 60 petecas de pasta base de cocaína, Jane negou ser usuária de drogas e disse que está há pouco tempo envolvida com o tráfico.
A informação dela foi desmentida pelo delegado Jaime Mercês, da seccional de Icoaraci. Segundo ele, dona Jane já era conhecida pela policia tanto pelo fato de ser usuária quanto por seu envolvimento com o tráfico de drogas.
“Geralmente essas senhoras que são presas vendendo entorpecentes já possuem um histórico com o crime, seja com elas ou com suas famílias, como é o caso desta mulher”, afirmou o delegado.
Antecedente familiar influencia no crime
Uma pesquisa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), realizada no primeiro semestre deste ano, de responsabilidade da socióloga Julia Lembruger, que chefiou o sistema carcerário do Rio de Janeiro, garante que os maiores motivos que levam as mulheres a entrar no mundo do tráfico são os antecedentes criminais na própria família.
“Geralmente essas mulheres possuem seus companheiros ou filhos ligados ao tráfico, quando eles são detidos elas acabam dando continuidade ao negócio”, explica a socióloga.
Ainda de acordo com Julia, outra situação muito comum entre as mulheres presas por tráfico é a prisão em flagrante no momento em que estão levando drogas para seus filhos, netos ou companheiros na prisão.
Foi o que aconteceu com dona Ana Castilho, 55 anos, autuada em flagrante durante uma revista em dia de visita no Presídio Estadual Metropolitano II, em Ananindeua. Ela foi detida no momento em que se preparava para visitar seu filho na unidade penal, portando uma sacola com uma porção de maconha e um aparelho celular dentro de uma vasilha de comida.
Ana Castilho nega o seu envolvimento com o tráfico e aponta uma segunda mulher como dona da sacola que segurava. “Eu nunca trabalhei com venda de drogas, armaram foi uma cilada pra mim. A única coisa que fiz foi visitar meu filho. Deus sabe que eu fui vítima de uma armação”, alega.
O caso de dona Ana coincide com o da aposentada Joana Tereza Ribeiro, 56 anos, detida em flagrante por tráfico de drogas enquanto visitava o seu marido, na unidade penal da Cidade Nova, em Ananindeua.
A aposentada negou que estava levando os entorpecentes para o marido e disse desconhecer a origem do pacote de maconha prensada encontrada em sua sacola durante a revista pessoal. “Não sei como essa droga veio parar aqui. Eu não tenho nada a ver com isso. O meu marido sim, foi detido por tráfico, mas eu jamais mexi com essas coisas”, afirmou a mulher.
Vício do “amor”
As prisões das senhoras acabam entrando para pesquisas como a do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, que aponta o tráfico de drogas como a segunda maior causa de prisão de mulheres no Brasil.
Das 28,1 mil mulheres detidas em unidades penais de todo o país, 14,6 mil foram presas por tráfico de entorpecentes. (Diário do Pará)