BRASÍLIA - Estamos no final do ano, os escândalos são muitos, as mentiras se multiplicam e, talvez por isso, o escândalo do banco PanAmericano desliza sorrateiramente para um segundo plano. Não devia.
É a típica história que envolve política, economia, maracutaias, protagonistas poderosos e capítulos picantes, mas é sempre mal contada.
O PanAmericano era do empresário Silvio Santos, quase quebrou em 2010 sob o peso de um rombo de R$ 4,3 bilhões e acabou sendo milagrosamente salvo numa parceria do BTG Pactual e da Caixa Econômica Federal, banco público que despejou R$ 740 milhões para levar 36% do mico, ops, do negócio.
O então presidente Lula andava ocupadíssimo com a campanha da companheira Dilma, mas arranjou uma brecha na agenda para conversar com SS bem no meio da confusão do PanAmericano.
Jamais se soube, como provavelmente jamais se saberá, o que o presidente da República e o dono do banco trataram, como jamais se soube, mas talvez se possa saber um dia, por que a CEF foi se meter numa furada dessas. A chave pode estar na dupla militância de SS, que é também, e principalmente, dono do SBT.
Parecia tudo resolvido, mas algo saiu do script: a Polícia Federal decidiu escarafunchar o PanAmericano e nove pessoas acabaram indiciadas, inclusive o seu ex-presidente Rafael Palladino.
E tem mais: o pior de tudo é que o PanAmericano estava morrendo, recebeu a injeção levanta-defunto e... continua agonizando.
O Banco Central exige que instituições financeiras tenham um mínimo de 11% de capital próprio para fazer operações de crédito. E o banco do BTG e da Caixa, que já foi do SS, passa raspando. Precisa de um aporte pesado para ser novamente salvo.
Quem vai se responsabilizar dessa vez? E por quê?
Como há interrogações de mais e respostas de menos, essa novela ainda deve ir longe. Sem final feliz.
Eliane Cantanhêde: Enredo policial
Por: Folha de S. Paulo