Recluso na Neve |
O génio, o crime e a loucura, provêm, por igual, de uma anormalidade; representam, de diferentes maneiras, uma inadaptabilidade ao meio.( Fernando Pessoa )
abandonar as roupas usadas
Que já têm a forma do nosso corpo…
E esquecer os nossos caminhos que
nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre
À margem de nós mesmos.”
Fernando António Nogueira Pessoa
(Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta e escritor português.
É considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua portuguesa ao mundo".
Travessia ( Milon Nascimento )
Quando você foi embora
Fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito,
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha,
E nem é meu este lugar
Estou só e não resisto,
Muito tenho prá falar
Solto a voz nas estradas,
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra,
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa,
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto,
Vou querer me matar
Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte,
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver
Milton Nascimento
(Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1942) é um cantor e compositor brasileiro, reconhecido mundialmente como um dos mais influentes e talentosos cantores e compositores da Música Popular Brasileira.
Mineiro de coração, tornou-se conhecido nacionalmente, quando a canção "Travessia", composta por ele e Fernando Brant, ocupou a segunda posição no Festival Internacional da Canção, de 1967.
Fernando Pessoa, brilhante poeta português, dentre tantos poemas geniais, fala em um deles sobre a questão do cansaço, inclusive das estrelas. Diz ele: “Tenho dó das estrelas luzindo há tanto tempo, tenho dó delas” (...). E, no mesmo poema, ele se pergunta “se não haverá um cansaço das coisas”. Claro que sim, digo eu, principalmente com as injustiças.
Rubem Alves, o consagrado escritor brasileiro, quando de sua despedida do jornal Folha de São Paulo, evoca esse belo texto de Fernando Pessoa sobre a questão do cansaço. Vai mais além, entretanto, ao afirmar que não mais quer escrever por obrigação. E de novo cita Fernando Pessoa: “Ah, a frescura na face de não cumprir um dever... Que refúgio o não se poder ter confiança em nós”. Fantástico! Feliz o Rubem, que pode fazer isso.
Por que evoco os dois consagrados escritores? Porque os admiro e também porque muito tenho aprendido com os seus ensinamentos de vida. Tenho refletido bastante sobre a minha atual vida profissional, e a cada dia estou mais convicto da necessidade de se ter paz de espírito.
Nada mais importante na vida do que a tranquilidade da nossa alma. Aliás, o genial Fernando Pessoa tem uma frase lapidar: “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”.
Há tempo para plantar, há tempo para colher. Há tempo para pensar, há tempo para fazer. Há tempo para chorar, há tempo para sorrir. Há tempo para entrar, há tempo para sair. E por que sair? Essa é a pergunta que faço ao acordar e ao deitar todos os dias. Terminei o meu trabalho? Não. Ainda tenho muito para contribuir? Sim. E por que sair? Porque, por incrível que pareça, apesar das injustiças contra mim, estou em paz comigo mesmo. Firme, determinado, focado e, acima de tudo, muito
sereno.
Sei o quanto contribuí para esta nova Alagoas. Montei uma equipe talentosa e comprometida com o nosso Estado. Mas isso só foi possível graças à visão do governador Teotonio Vilela. A ele, principalmente, e à minha equipe devo o sucesso alcançado pela minha gestão. Estou hoje me despedindo da vida pública? Ainda não. Estou somente falando em voz alta o que se passa comigo atualmente.
Termino essas linhas, mais uma vez, recorrendo a Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo/ E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares/ É o tempo da travessia/ E se não ousarmos fazê-la/ Teremos ficado para sempre/ À margem de nós mesmos”.(publicado na Gazeta de Alagoas)
Luiz Otavio Gomes
Brasileiro, advogado, com especialização em Administração de Empresas.
Sócio fundador da LOG ,Negócios&ConsultoriaÉ o atual Secretário de Estado do Planejamento e do Orçamento de Alagoas.
Fontes:LOG ,Negócios&Consultoria-Gazeta Alagoas
Poderá também gostar de: