"Ao longo de 2.340 dias após o assassinato de meu filho, não tenho obtido êxito. Talvez me falte o ingrediente que move autoridades: voto, poder eleitoral... quem sabe?" Artigo do empresário Sérgio Gabardo. "Ao longo de 2.340 dias após o assassinato de meu filho, não tenho obtido êxito. Talvez me falte o ingrediente que move autoridades: voto, poder eleitoral... quem sabe?"
Por Sérgio Gabardo,
empresário
Meus amigos e minhas amigas, eis-me novamente aqui, postado diante de cada um de vocês que têm acompanhado o meu sofrimento nestes 2.340 dias, 56.160 horas de dor e angústia pelo assassinato brutal e, até hoje, inexplicável do meu filho Mário, um jovem de apenas 20 anos. Ele teve sua vida ceifada por criminosos a mando não sei de quem e premiados pelo Instituto da Impunidade.
Para tentar me consolar concederam o nome do meu filho Mário Sérgio Gabardo a uma rua da cidade de Canoas (RS). Foi tudo o que as autoridades constituídas deste país conseguiram me dar em troca de todo o martírio que tenho vivido desde a trágica noite de 29 de setembro de 2005. Uma iniciativa do vereador Juares Carlos Hoy.
Como vocês sabem, meu filho Mário foi assassinado quando chegava para uma confraternização com amigos de infância. Estava cursando Direito na PUC. Tinha um futuro promissor pela frente. Estudioso e trabalhador; humilde e sereno; educado e respeitoso; sem inimigos e sem vícios; dedicado e companheiro; inteligente e perspicaz; arrojado nos ideais e sério de caráter. Este era o Mário aos que o conheciam.
Daquela noite trágica, até hoje não teve um único dia em que sua lembrança não estivesse presente em minha mente. Forte! Não houve um único dia em que as lágrimas, oriundas da intensa saudade, não tivessem molhado meus olhos e aquele aperto no peito não tivesse ameaçado meu coração de pai. São anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos incontáveis de tristeza pela incerteza de saber o que efetivamente aconteceu na noite do seu assassinato... o motivo real.
A certeza, efetiva, que existe é a de que os assassinos e/ou os mandantes estão gozando da mais absurda e hedionda impunidade. Sei que o caso do meu filho Mário não é o único. Como o dele há uma centena de crimes insolúveis, mas não consigo me conformar com a imperícia na elucidação desse assassinato cruel e, por isso mesmo, desumano, inconcebível, inadmissível e horripilante até.
Tenho me debatido e cobrado aos brandos uma resposta das autoridades ditas responsáveis pela área da segurança pública. Não tenho obtido êxito. Talvez me falte o ingrediente que move e remove essas autoridades: voto, poder eleitoral... quem sabe? Certamente se comandasse uma legião de eleitores seria recebido num gabinete com ar condicionado e, talvez, nem seria preciso saber se, como cidadão, pago meus impostos em dia, se recolho aos cofres públicos ou não. Mera formalidade sem expressão alguma.
Grito aos quatro ventos movido pelo sentimento de justiça. Quero, sim, saber quem matou meu filho Mário e a mando de quem. Quero, sim, que os verdadeiros culpados sejam punidos com o rigorismo - se é que existe - da lei em vigor. Estou bem distante de alimentar um sentimento de vingança porque sou cristão e religioso. Mas justiça, estou a exigir.
Este é um direito, inalienável, de pai e que precisa ser respeitado pelas autoridades, quer sejam municipais, estaduais ou federais.
Insensíveis são essas autoridades simbolizadas pelos organismos policiais, Ministério Público - esse tido como o guardião (?) da sociedade - e Poder Judiciário. Todos movidos pelo descaso absoluto, pela falta de vontade política e pela ausência da obrigação do dever cumprido.
Sai prefeito entra prefeito, sai governador entra governador, mudam secretários de Segurança, delegados, promotores, juízes e... nada ! Nenhuma satisfação é dada a um pai que tem o direito de saber o que aconteceu com o próprio filho. Da morte do seu filho. Do assassinato do seu filho. Nada sensibiliza essas autoridades que ganham seus respeitáveis vencimentos, mas que não podem dispor de poucos minutos para dizer algumas palavras a um pai.
Fico a imaginar o que deve passar na mente de uma autoridade dessas. E, por vezes, penso que estão a aguardar o meu cansaço, a minha fadiga para incluir o nome do meu filho Mário como mais um número da desastrosa estatística dos casos insolúveis. Mas estão muito enganados porque, como disse em outras oportunidades, enquanto houver um sopro de vida em meu ser estarei cobrando o que me é devido, o que me é de direito: saber quem assassinou meu filho Mário e quem foram os mandantes, para que todos, indistintamente, sejam identificados e encaminhados para prestar contas à Justiça humana.
Sergio, Pai do Mário.
sergiogabardo@transgabardo.com.br
Extraído de: Espaço Vital