Bactéria Yersinia Pestis |
Descrição da imagem: Micrografia Eletrônica de Varredura (SEM) aprimorada em cores representando uma massa de bactérias Yersinia pestis no intestino anterior do vetor da pulga. Yersinia pestis (anteriormente Pasteurella pestis) é uma bactéria Gram-negativa em forma de bastonete. É um anaeróbio facultativo que pode infectar humanos e outros animais. A infecção humana por Yersinia pestis assume três formas principais: pneumônica, septicêmica e as notórias pestes bubônicas. Acredita-se que todas as três formas tenham sido responsáveis por uma série de epidemias de alta mortalidade ao longo da história humana, incluindo a Peste de Justiniano em 542 e a Peste Negra que foi responsável pela morte de pelo menos um terço da população europeia entre 1347. e 1353.
Comentário de Celso Tavares no site Folha online :
"Em relação à matéria de Reinaldo José Lopes que versa sobre a morte do cientista norte-americano por peste, consta que 'um assassino microscópico que parecia ser coisa da Idade Média (ao menos no Primeiro Mundo) pode ter matado...'. Vale registrar que nos EUA ocorrem anualmente entre 10 a 20 mortes, o que torna a zoonose um agravo merecedor de atenção nas áreas focais. Aqui em Alagoas, por exemplo, 28% do território faz parte da chamada 'área pestígena', e os últimos casos foram notificados em 1972. A bactéria circula entre roedores nos focos do Nordeste e recentemente foram detectados canídeos sorologicamente positivos na serra dos Órgãos, como constatam os levantamentos realizados pelo Programa de Controle da Peste. O significado desse evento --a Yersinia pestis circula livremente nessas regiões-- estabelece que a peste continua a ameaçar os humanos.
No Brasil, a doença sempre se manifestou por sua forma mais leve, a peste bubônica, que pode ser confundida, por exemplo, com algumas doenças sexualmente transmissíveis (DST). Nas unidades básicas nas áreas de risco, quase sempre distantes dos grandes centros, pode haver uma confusão, pois nelas utiliza-se o chamado 'diagnóstico sindrômico'. A nossa sorte é que as drogas utilizadas nas DST podem ser eficazes na peste e, assim, 'atira-se no que se vê e acerta-se no que não se vê'. A professora Alzira de Almeida e a equipe do Centro de Referência de Peste (CPqAM/Fiocruz) estão repletos de razão quando continuam insistindo na necessidade de conferirmos a devida prioridade à peste, o que atualmente não ocorre, pois a sociedade, os profissionais e autoridades de saúde desconhecem-na ou a esqueceram. As consequências desse fato são as mais diversas, porém a mais provável é que só diagnostiquemos uma epidemia após a ocorrência de mortes."
CELSO TAVARES, professor da UFAL (Maceió, AL)
Matéria publicada em 09/2009 na Folha de São Paulo
Bactéria da Peste Negra pode ter matado pesquisador americano
Folha de S. Paulo – São Paulo/SP
Cientista da Universidade de Chicago estudava forma mais fraca do micróbio
REINALDO JOSÉ LOPES
Um assassino microscópico que parecia ser coisa da Idade Média (ao menos no Primeiro Mundo) pode ter matado o geneticista Malcolm Casadaban, 60, que estudava a bactéria da peste bubônica na Universidade de Chicago. Internado no último dia 13 com dificuldades respiratórias, ele morreu logo depois, e seu sangue apresentava traços da Yersinia pestis. O governo americano mandou cientistas até Chicago para entender as circunstâncias da morte de Casadaban. Segundo comunicado da universidade, o pesquisador trabalhava com uma forma menos agressiva da bactéria, que pode até ser usada para vacinar pessoas.
A Y. pestis é a principal suspeita de ter causado a Peste Negra, epidemia que matou cerca de um terço da população da Europa no século 14. Cerca de 3.000 mortes ainda ocorrem ao ano no mundo, em especial nos países mais pobres, mas mesmo no Primeiro Mundo roedores silvestres ainda são reservatórios da bactéria. “Justamente por causa da presença nos roedores é quase impossível erradicar a doença”, explica Alzira Paiva de Almeida, pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) de Pernambuco e coordenadora do Serviço de Referência Nacional de Peste. O último caso humano no país foi registrado em 2005, diz ela, mas a vigilância ainda é indispensável.
Sem pânico
Cerca de uma centena de familiares, amigos e colaboradores de Malcolm receberam antibióticos como medida de precaução. No entanto, não houve mais casos da doença em Chicago, e a janela de incubação da bactéria caso a transmissão tivesse ocorrido -- uma demora entre dois e seis dias até que os sintomas apareçam -- está prestes a terminar. O clima na universidade é relativamente tranquilo, contam cientistas brasileiros que trabalham lá. “Sinceramente não fiquei assustado”, diz Igor Schneider, embriologista paraense que faz seu pós-doutorado na instituição. Schneider conta que a rotina do campus não mudou. “Tem cerimônia de graduação acontecendo hoje [ontem] e está cheio de pais de alunos por aqui”, afirma.
O pernambucano Marcelo Nóbrega, professor de genética humana, relata um ambiente um pouco menos tranquilo, em parte porque seu laboratório fica no mesmo prédio onde trabalhava Casadaban. “As instalações dele são no térreo do prédio, perto do elevador, um lugar por onde todo mundo passava, então as pessoas estão preocupadas”, conta. “Espalharam cartazes sobre o que aconteceu pelo prédio, assim como higienizadores para as mãos”, diz o pesquisador.
Para Alzira Almeida, uma das possibilidades para a contaminação do pesquisador seria o descuido com a segurança. “Um corte na mão ou o contato das mãos com a mucosa do olho poderia levar a uma infecção direta da corrente sanguínea, com efeitos fulminantes”, diz ela. “Mas seria estranho que um cientista experiente como ele cometesse esse tipo de descuido”, afirma. Outra hipótese envolveria a troca da cepa mais leve da bactéria pela sua versão mais agressiva. “Também seria um erro estranho”, ressalva Almeida, para quem há pouco risco de novas infecções. “Parece que apenas ele foi atingido, talvez por