População fala em surto de Leishmaniose em Indaiatuba; Prefeitura
pede cautela
A história teve início em loteamentos como Vale das Laranjeiras e bairros como Videira: cães com suspeita de leishmaniose. Mas, o assunto já começa a preocupar a população de Indaiatuba e comunidades relacionadas à defesa dos animais. A notícia é a de que os números de casos cresceram muito nos últimos meses e a Prefeitura não está divulgando os números corretos.
Na semana passada [maio/2012], uma moradora do Vale recebeu um telefonema vindo da Prefeitura dizendo que o resultado da coleta de sangue feito no cachorro Bungo, de 6 anos, tinha dado positivo para leishmaniose. “Eles disseram ao meu marido que viriam naquele dia mesmo para fazer uma segunda coleta de sangue; não apareceram, não deram notícias e nem um retorno”, conta a moradora que por conta própria refez todos os exames e mantém até hoje Bungo internado numa clínica veterinária particular.
Segundo a autora da reclamação, o problema é que ela não está vendo nenhuma ação da Prefeitura no sentido de evitar uma possível proliferação da doença. Segundo os moradores, os bairros mais
atingidos seriam Vale das Laranjeiras, Videira e mais recentemente, Itaici.
Resposta da Prefeitura
Segundo a Assessoria de Comunicação Social (ACS) da Prefeitura de Indaiatuba, de fato, no dia 3 de maio [2012], técnicos do Instituto Adolfo Lutz estiveram na cidade fazendo o exame “aspirado de linfonodo” em cães que tiveram resultado positivo no inquérito canino realizado em abril [2012], em 140 animais dos bairros Videira e Vale das Laranjeiras.
Dos 18 casos positivados no inquérito, o exame foi refeito em 8 cães (em 4 casos as residências estavam fechadas, 2 não autorizaram a realização do exame, 3 cachorros não tinham linfonodos pelo corpo e um havia fugido).
Ainda segundo a assessoria da Prefeitura, os técnicos deverão retornar ao município para fazer o exame nos 4 cachorros das residências que estavam fechadas, mas ainda não foi definida uma data.
Histórico
Em razão do início do diagnóstico da doença em março [2012], em 6 cães de proprietários residentes nos bairros Videira e Vale das Laranjeiras, no mês seguinte [abril/2012] foi realizado o inquérito entomológico, que é a colocação de armadilhas em lugares estratégicos com o objetivo de capturar amostras de flebotomínios, mosquito transmissor da doença.
Os insetos capturados foram encaminhados para análise pela Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) de Mogi Guaçú. O Departamento de Vigilância Epidemiológica do Município aguarda o resultado do inquérito e também da pesquisa de isoensima - exame específico realizado pelo laboratório Bio-Manguinhos, Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) - que verifica a presença da leishmaniose chagasi [espécie _Leishmania chagasi_, agente etiológico da leishmaniose visceral
Cautela vai evitar sacrifício dos animais
A Prefeitura reforça ainda, cautela na divulgação das informações, uma vez que os procedimentos para o diagnóstico final da doença são extensos e até o momento não estão concluídos. Por enquanto, segundo a Prefeitura, os casos identificados no Município são considerados suspeitos.
A prudência é uma orientação da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) do Governo do Estado de São Paulo, já que os dados não são conclusivos. O objetivo é evitar o sacrifício indiscriminado dos animais.
Diante de casos suspeitos, a população pode ligar para os telefones 3834-9207 ou 3834-9297 para solicitar apoio e obter orientações profissionais.
Comentário de promedmail.org
Sim, é preciso cautela, não omissão.
Pelo que se observa, resultados de testes confirmatórios, possivelmente parasitológicos e, talvez, de biologia molecular (PCR), ainda estão pendentes. Em cães, a hipótese leishmaniose visceral deve ser cuidadosamente investigada, uma vez que muitas características clínicas se assemelham a doenças relativamente comuns, como a erliquiose. Além disso, o resultado da pesquisa entomológica ainda não confirmou a presença de flebotomíneo.
Mais um detalhe. Os testes sorológicos de triagem podem apresentar limitações, sobretudo, em relação à especificidade, podendo levar a resultados falso positivos. Lembrar que em áreas silenciosas, onde não há a confirmação da transmissão da doença, o valor preditivo positivo de um teste é distinto do observado em áreas com transmissão estabelecida.
Algumas perguntas: todos os cães infectados (?) são nascidos e criados em Indaiatuba? Têm história de viagens e deslocamentos para áreas de transmissão? As áreas onde há a ocorrência de cães suspeitos, são urbanas, periurbanas ou rurais? Foi considerado a possibilidade de, em sendo áreas periurbanas ou rurais, de se tratar de um ciclo de transmissão silvestre?
Apesar das pendências quanto a resultados e conclusões das investigações, não estranharia se a confirmação de leishmaniose visceral canina autóctone vier a ocorrer; isso colocaria Indaiatuba na indesejável lista de cidades paulistas com transmissão da doença e mudaria significativamente o mapa de transmissão da doença no estado.
Uma observação pessoal. Se não estiver sendo traído pela memória, há cerca de 10 anos atrás foi confirmado 1 caso de leishmaniose visceral em uma criança nascida e residente em Indaiatuba. Até onde tenho conhecimento, não foi possível elucidar as circunstâncias em que se deu a transmissão.
Vamos acompanhando e aguardando os resultados das investigações.