Arte política
É compreensível. Certas horas nos bate um sentimento de desânimo, invade-nos a vontade do “deixa pra lá”, como se não valesse mais a pena lutar pelo que é justo e verdadeiro. Os políticos são nivelados e igualados aos escândalos dos quais emergem e imergem e o desejo de que todos sejam relegados ao limbo acomete a todos. Não é para menos. O prefeito de Curitiba Beto Richa, do PSDB (mais uma vez os tucanos) teve que dar explicações na semana passada sobre pagamentos indevidos durante a última campanha eleitoral para a prefeitura – tudo gravado por um de seus assessores, embora não do mesmo partido -; o Senado tem suas entranhas reveladas e a sociedade descobre que milhões circulam ali todos os meses sem controle; Alagoas está inscrita no Cadastro Único de Convênios, e sem poder receber recursos do governo federal porque o atual governo, do PSDB (olha os tucanos outra vez), não está cumprindo a Lei e aplicando 25%do orçamento na educação. É um absurdo, mas é fato. O cidadão, pagador dos seus impostos, lamenta e se pergunta como resolver essa situação, como dar o troco.
A historiadora alemã Hannna Arendt, que viveu a maior parte do tempo nos Estados Unidos, um ícone da comunidade universitária e da mídia, escreveu, certa feita, que “a política é arte que ensina aos homens a produzir o que é radiante e grandioso”, ou seja: política é arte e a política está destinada a grandes acontecimentos. A política comezinha, aquela do balcão de negócios e gerida para atender a questões pessoais, não é política.
Cabe ao verdadeiro político, que compreende o sentido holístico do termo, guiar os homens na direção do grandioso, e quando citamos grandioso aqui, não nos referimos à obras faraônicas. A grandiosidade referida por Arendt está diretamente ligada à construção de uma grande sociedade. Segundo ela, “o poder apenas acontece se e quando os homens se unem entre si no propósito de exercerem uma ação”. Daí, o político não e dono do poder, ela emana do povo. Quando aquele sentimento de desânimo nos acomete, é importante lembrar que os maus políticos que estão exercendo o poder em nosso nome, foram eleitos por nós e cabe a nós pô-los no caminho certo ou, simplesmente, tira-los do caminho.
Os sucessivos escândalos que tomam conta dos noticiários (por mais abjeta que a idéia possa parecer), são importantes por levar a sociedade a purgar os violadores da arte da política. Aprendemos com os erros. Os maus políticos não pensam assim. Insistem na tese da curta memória de eleitorado, investem em projetos pessoais e acreditam que não há grandiosidade no que fazem. Fecham-se para o mundo e se acham intocáveis.
A maioria da população provavelmente não leu Hanna Arendt, mas se for apresentada ao que ela escreveu, concordará de imediato. O cidadão que diz “odeio política”, está se referindo àquela política comezinha. Exprimirá o contrário se for apresentado à verdadeira política, aquela dos projetos destinados à construção de um grande sociedade, onde todos tenham direitos a fundamentos básicos como saúde, segurança e educação, onde todos tenham direito a um emprego digno e onde todos sejam participes da prosperidade e da igualdade de direitos humanos. Numa sociedade assim, o mau político não prospera e a política é sim, grandiosa.
Ronaldo Lessa
http://ronaldolessa.blogspot.com.br/2009/07/arte-politica.html