Ana Cláudia Laurindo • 1 de novembro de 2012 • 9:17 am
Diante dos meus olhos o dia primeiro de novembro começou molhado, como se ao invés de sol radiante uma grossa chuva ensopasse minha vida. E o mar azul que vejo ao fundo, pela janela do meu quarto, fosse turvo e cinza.
Aprendi a não ter vergonha de sofrer. Mostrar que sentimento não renega racionalidade, nem diminui a força.
Sou mulher, sou mãe, sou cidadã e política, em um tempo de consumos terapêuticos e venalidades. Salvo minha essência!
Novembro reflete a dor de quem sofre os efeitos da violência descabida e desnecessária que Alagoas alimenta.
A retirada do olhar material e meigo de Alexystaine, dos vãos da nossa casa. Seu quarto arrumadinho e vazio. Seus pertences distribuídos. Seus silêncios agravados pela incorrígivel corrupção que torna nossa sociedade omissa e nossas instituições inservíveis.
A imensa tristeza distribuída para tantas outras mães, assim alagoanas e sós, como eu mesma. Sem ter encontrado alento antes e depois do crime. Largadas no meio da guerra promovida pelas injustas falagens institucionais silenciosas e bélicas.
A vida poderia contar outros trechos dessas histórias…esses meninos e meninas poderiam escrever versos, postar fotos felizes no facebook, tomar sorvetes, aprender inglês e espanhol, dançar a variedades de ritmos barsileiros…no entanto, foram emudecidos, retirados dos ninhos ainda implumes…
Como posso me envergonhar de chorar? Aos poderes inúteis a vergonha de não atuarem em benefício e defesa das vidas!
Aos déspotas e assassinos bem vestidos a vergonha de sabotarem as próprias consciências.
Eu choro em lágrimas e palavras o silêncio dos bons e o desmantelar ruidoso dos maus.
Choro a saudade de meu filho e recordo as anônimas mães envergadas em depressão profunda…Choro por elas também.
Acender velas, só na consciência, para não esquecer de lutar! Não esquecer de amar, apesar da dor que não se mede nem pesa. Que indisciplinada esfacela minha alma de mãe-mulher! Mas me faz capaz de abandonar o mísero cotidiano de trocas e vendas, para perceber o que paira além…
Além da dor, da morte, da violência malsã…a vida maior que se abre aos que crêem nela!
Posso ver meu filho sorrindo, refletindo a poesia da eternidade para ser escrita nestas linhas amorosas.
Por isso vivo para a esperança.
Só o amor pode afirmar com tanta força que não morre!
Tudo mais, será ilusão e efemeridade a confundir os potentados terrenos e seus seguidores irresponsáveis.
Pelos jovens e suas mães, chega de impunidade! Chega de corporativismo criminoso! Chega de mentiras e hipocrisias institucionais! A lacuna da Justiça continua no aguarde…Alagoas.