Estamos nos preparando para o Natal e as mensagens começam a abarrotar minha caixa de e-mail! Todas bem intencionadas, falam-me de uma festa mágica, regada a presentes e sorrisos. Estranhamente, sinto-me fora desse Natal! Hoje ele não me engole mais, fiquei muito larga para sua boca miúda. Desde que a dor, a omissão e o desprezo de setores da sociedade invadiram as dependências da minha vida, não me encaixo mais no coro dos contentes!
Comungarei este ano um Natal muito diferente. Comungarei o abandono do Cristo, nascendo fora da cidade, sob o anonimato terreno, recebendo as boas-vindas dos irmãos menores, os animais.
Comungarei o silêncio das mães alagoanas, em despedida constante de seus jovens filhos, largados na vala comum das desigualdades sociais, madrasta de todos os crimes!
Estarei com elas em seu não dito, nos gritos abafados e choro menosprezado, sem direito de sentir. Sem direito de lamentar, porque a vida pragmática tem a obrigação de continuar, assim mesmo, sem sentido, sem objetivos definidos, sem perspectivas de amanhã desde hoje.
Aceitei em minha carne o Natal das mães da periferia, habitantes das grotas e favelas, aquelas que só recebem a compaixão da Virgem Maria! E farei para elas um poema curtinho, em forma de prece, pedindo ao aniversariante festejado com luxo e brilho, que passe a Noite conosco, emprestando o brilho de sua estrela para envolver nossos filhos condenados pela violência incontida, para que durmam embalados pelo cântico dos anjos até o despertar de uma nova história.
20h00, 14 de dezembro de 2010
Ana Claudia Laurindo- Cientista Social