A dengue é a única doença tropical autônoma que se expandiu na última década e que tem potencial real para se converter numa epidemia mundial, de acordo com um relatório divulgado hoje pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
No relatório, a OMS refere que os países lusófonos continuam a apresentar índices elevados de doenças tropicais negligenciadas como a dengue, a doença de chagas e a leishmaniose.
No documento, a OMS analisa o impacto que as doenças tropicais têm no mundo e sugere políticas públicas que poderiam ser aplicadas para reduzir ou erradicar a sua incidência.
Das 17 doenças que integram o grupo de doenças tropicais autónomas, a OMS considera que a dengue é a que «representa uma ameaça global».
No ano passado, a dengue – detetada em 2010 na Europa - foi a doença viral ligada a um fator de transmissão (mosquito) que mais rapidamente se expandiu no mundo.
No último meio século, a incidência da dengue multiplicou-se por 30 e a sua expansão continua a aumentar, pelo que os cientistas acreditam que a doença tem todas as condições para se converter numa verdadeira pandemia mundial.
«A doença está presente em 150 países e não há nenhuma região do mundo onde não esteja presente. Se não for controlada corretamente pode dispersar-se e converter-se numa verdadeira pandemia», afirmou o especialista da OMS Raman Velaywdhan, citado pela agência “EFE”.
De acordo com a OMS, a doença é contraída por 50 a 100 milhões de pessoas por ano, sendo que 500.000 delas padecem da versão mais grave, conhecida como hemorrágica (que já causou 22.000 mortos).
«O aumento da população, a circulação de mercadorias pelo mundo e as alterações climáticas que fazem aumentar as temperaturas e as inundações contribuíram para a expansão silenciosa da doença», disse o especialista, citado pela “Lusa”.
De acordo com Velaywdhan, a doença chegou à Europa através de, por exemplo, a importação de plantas bambu que trouxeram larvas e mosquitos infetados.
O mosquito Aedes aegypti foi detetado na Madeira em 2005, mas só em outubro de 2012 surgiram os primeiros casos de febre de dengue, uma situação que, de acordo com os últimos dados da Direção Geral de Saúde, afetou cerca de duas mil pessoas.
A febre de dengue transmite-se aos humanos pela picada do mosquito ‘Aedes aegypti’ infetado e apresenta como sintomas febre e dores de cabeça e nas articulações. Num estado mais avançado, a doença pode causar hemorragias e tornar-se mortal.
Como não existe uma vacina e um tratamento específico da dengue, a OMS recomenda que a doença seja combatida através de uma estratégia multidisciplinar e complementar que abranja o diagnóstico e controlo dos casos, vigilância contínua, o controlo do fator de contaminação e a implementação de futuras vacinas e investigação.
A OMS considera que, se estas recomendações fossem aplicadas em todos os países, em 2020 a incidência do dengue poderia ser reduzida em 25% e a mortalidade em 50%.