Os médicos grevistas da rede estadual receberam segunda-feira (4) um importante apoio na luta contra o governo por valorização profissional, salários dignos e condições éticas de trabalho. O senador Fernando Collor (PTB) participou da assembleia no Sinmed, conversou com os médicos sobre salários e a situação caótica dos hospitais e ambulatórios, recebeu uma cópia do relatório do sindicato sobre os serviços de urgência e emergência, pediu mais uma cópia e disse que sua visita teria consequências. O senador avisou que entregaria o relatório ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, faria um relato sobre o encontro com os médicos e cobraria providências.
O encontro com o senador trouxe novo ânimo à categoria, indignada pela forma como é tratada pelo governo. Em greve desde 11 de dezembro passado, os médicos já sentiram que o governo quer vencer pelo cansaço e que a greve acabe sem que atenda às reivindicações. Isso, no entanto, não é opção para os grevistas que estão decididos a somente encerrar a greve quando o PCCV foi implantado e os salários forem reajustados a um patamar compatível com a média do Nordeste. Do contrário, pedirão demissão.
Mas a visita do senador Collor, além de criar na categoria a expectativa de solução para o impasse, também gerou reação do governo. Na imprensa, foram anunciadas represálias numa tentativa de intimidar os médicos com ameaça de processo administrativo e exclusão do quadro do Estado. Um tiro no pé. Aliás, mais um desse governo, tão acostumado a bravatas e atitudes inconsequentes. Evidentemente, se tal ameaça for cumprida o Sinmed usará o direito de defesa e, nas condições em que a Saúde se encontra certamente o feitiço vai virar contra o feiticeiro.
No meio disso tudo, a morte de uma paciente por suposta falta de assistência fez o Ministério Público Estadual acordar do sono profundo que, nos últimos seis anos, tornou a instituição incapaz de se movimentar e investigar as reiteradas denúncias do Sinmed sobre o caos na saúde. Mas o MPE acordou aturdido e, ao iniciar investigação do caso, lançou acusações de culpa pela morte para o lado errado: médicos grevistas e o Sinmed.
A greve nada tem a ver com essa morte. Se for para responsabilizar alguém ou alguma instituição, devem-se responsabilizar as pessoas e as instituições certas. O fato é que os alagoanos estão desprovidos de assistência e a culpa é do governo, omisso nas suas obrigações de prestar assistência saúde. O MPE é responsável porque, avisado do abandono do setor e dos riscos que a população corre pela falta de condições de assistência, nada fez para exigir do Estado o cumprimento de seus deveres constitucionais.
No relatório sobre as urgências e emergências entregue ao MPE em janeiro passado, o alerta sobre as mortes por falta de estrutura nos hospitais do Estado foi reiterado. No documento, o Sinmed advertiu: pessoas morrem todos os dias no HGE, Santa Mônica, UE do Agreste e vão continuar morrendo se nada for feito. O MPE abriu processo contra o Estado, desde então? Não! Como também não fez nada quando recebeu o relatório original em 2010 e, novamente, em 2011. Pura omissão.