Carolina Heringer e Luã Marinatto
Com muita falta de ar, Claudionor de Souza Machado, de 75 anos, foi levado por parentes de Campo Grande, onde mora, à UPA de Vila Kennedy, na tarde do último sábado. O que deveria significar alívio, contudo, foi só o início de uma agoniante espera. Entubado em estado grave na unidade desde domingo, apenas na noite ontem, após contato do EXTRA — e dois dias depois de uma determinação judicial —, Claudionor conseguiu transferência para um leito de UTI.
Na noite de segunda-feira, uma liminar da Justiça ordenava que a Prefeitura do Rio, responsável pela UPA, e o governo estadual, administrador da Central Estadual de Regulação de leitos da rede pública, transferissem Claudionor num prazo máximo de duas horas, sob pena de multa de R$ 1 mil por hora. Na terça-feira, com o paciente ainda internado na UPA, outra juíza reforçou a decisão anterior, que continuou não sendo acatada.
— Uma assistente social disse que a UPA não tem como alimentar um paciente nesse estado adequadamente. Meu tio está piorando — disse Rosilene Machado, de 40 anos, antes de saber da transferência.
Às 20h, duas horas após o EXTRA questionar a Secretaria municipal de Saúde sobre o caso de Claudionor, a pasta informou que ele estava sendo levado para um leito de UTI na Coordenação de Emergência Regional do Leblon, anexa ao Hospital Miguel Couto.
Estado diz que não havia leitos vagos
A Central de Regulação de leitos, através da Secretaria estadual de Saúde, disse que recebeu o mandado judicial sobre Claudionor na terça-feira. Por nota, o órgão informou que “encaminha os pacientes atendendo a critérios de urgência, necessidade e disponibilidade de vagas” e que até ontem não havia leito sem uso.
A decisão da Justiça, contudo, também determinava que, no caso de não haver leitos na rede pública, o paciente fosse conduzido a um hospital privado, com os custos arcados pelo poder público. Já a secretaria alegou que isso só pode ser feito “caso o juiz indique a unidade particular para a qual o paciente deve ser encaminhado e bloqueie o leito”.
"É terrível ver meu pai assim, em uma cama"
Depoimento do dançarino Pedro Maia, de 43 anos, filho de Claudionor
“Meu pai foi um dos primeiros passistas da Mangueira. Ele sempre foi muito ativo, envolvido com a dança. É terrível vê-lo assim, em uma cama. Estou arrasado.”