Altamir Tojal
Daqui a pouco vai ser a chuvarada. Mas por enquanto, nesse calorão de início de 2014 no Rio, falta água na casa de muita gente, principalmente em bairros e comunidades pobres. Como estamos num ano eleitoral, pode ter candidato e gente do governo providenciando carro-pipa e bica d’água para aliviar o pessoal. É a velha troca de necessidades por votos.
O Programa Mais Médicos, do governo federal, é coisa parecida. Doente pobre tem de acertar a mega-sena de um atendimento no SUS ou disputar com governantes e milionários a salvação no Hospital Sírio-Libanês. Mas eis que depois de 11 anos no poder, o governo lança o ‘Mais Médicos’.
Não é original, mas mágica velha também funciona. Após levar o sistema de saúde do país a uma situação calamitosa, o governo melhora o atendimento aqui e ali na véspera da eleição, gasta milhões em propaganda e colhe votos para eleger o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, governador de São Paulo, e ajudar Dilma Rousseff a se reeleger presidente.
UMA BANDEIRA
Há menos de seis meses, o Partido dos Trabalhadores estava buscando uma marca forte, uma bandeira para alavancar a campanha de Padilha. O ‘Mais Médicos’ foi mais uma invenção genial dos marqueteiros do partido. Mesmo que tenha vícios e evidente caráter eleitoreiro, quem se atreve a criticar o programa acaba ajudando a estratégia do “fale mal, mas fale de mim”. E vai logo para a galeria de inimigos da pátria. Ao lado dos “jornalistas golpistas”, dos “juízes conservadores”, dos “economistas em guerra psicológica”, temos os “médicos burgueses”, que se recusam a atender os pobres e criticam o ‘Mais Médicos’. De quebra, o programa dá uma força aos aliados que ainda mandam em Cuba, ajudando a equilibrar o balanço de pagamentos da ilha.
Temos em 2014 com o ‘Mais Médicos’, o que o Programa Bolsa Família foi para a reeleição de Lula, em 2006, e para a eleição de Dilma, em 2010. Tanto as transferências de renda como os programas sociais de saúde e outros são políticas de estado, mas são manipuladas nas administrações do PT como dádivas do governo e do partido. E as oposições são empurradas para o corner. Como criticar a bica d’água no calorão do Rio ou na seca do Nordeste?
É uma mágica eleitoral que dá certo desde sempre no Brasil. O que será que os marqueteiros do PT vão preparar para a volta de Lula em 2018? Talvez o ‘Mais Polícia’. Ou será o ‘Mais Prisões’?