Os médicos do PSF querem que a Prefeitura de Maceió instale relógio de ponto nos postos de saúde. Eles não aguentam mais ser responsabilizados pela falta de atendimento adequado à população. O que se costuma dizer é que os médicos faltam ao serviço, e por isso a população fica desassistida. O problema, porém, é outro.
Ou melhor, os problemas são outros. A começar pela baixa cobertura da atenção básica na capital alagoana, a mais baixa do País, inferior a 30%. Isso sobrecarrega os médicos que atendem no programa e que terminam ficando responsáveis por um número de pacientes muito maior do que seria recomendável. Mas isso não é tudo.
A falta de estrutura de trabalho é o maior desafio para qualquer médico de PSF na capital alagoana. Só para citar alguns exemplos:
- Existe uma tal de supersenha do CORA para encaminhamento de pacientes a especialistas. Os médicos não têm acesso a essa supersenha, apenas os coordenadores. Desse modo, mesmo quando necessário, os médicos nunca conseguem mandar um doente para avaliação de um especialista.
- Faltam medicamentos nos postos. Se o médico precisar receitar dois ou mais remédios para um doente, ele tem que fazer receitas separadas, uma para cada medicamento, já que as receitam ficam retidas e como nunca tem todos os medicamentos na farmácia, o doente precisa ficar com uma receita dos que estão em falta até consegui-los. Por conta disso, é constante a falta de blocos de receita nos postos.
- Faltam pessoas qualificadas para fazer a triagem dos pacientes para atendimento.
- Na maioria dos postos, as salas não oferecem privacidade aos doentes que estão sendo atendidos. Em um posto de saúde de Fernão Velho três médicos dividem uma mesma sala, enquanto atendem seus pacientes.
- Por conta do fechamento, em janeiro, da Unidade de Saúde Durval Cortez, no Prado, o médico do PSF atende em condições precárias numa sala dentro de uma igreja. O posto foi fechado para uma reforma da qual não se tem notícia.
- Também falta nos postos o formulário onde os médicos anotam sua produção. Por isso, eles precisam tirar cópias desse formulário e levar para os postos onde trabalham.
- A maioria dos postos não tem diretor administrativo ou diretor médico. Logo, os médicos não têm a quem recorrer para reclamar dessas dificuldades. Os coordenadores dos programas também nãoaparecem nos postos e os médicos só sabem quem é a secretária de saúde por ouvir falar. Ela nunca visitou os postos.
Em reunião realizada no SINMED na última segunda-feira, um médico relatou que há dois anos não consegue solicitar uma endoscopia digestiva. A médica de uma unidade de saúde do conjunto Selma Bandeira contou que pagava pedágio a traficantes para ter acesso ao local de trabalho.
Muitos médicos também relataram que a demora nas consultas, motivo de reclamação dos pacientes que estão aguardando sua vez, se dá porque a maioria da população é analfabeta, tem dificuldade para expressar o que está sentindo e, principalmente, para entender as orientações que os médicos dão sobre medicamentos e tratamento prescritos.
Como se não bastassem as reclamações descabidas contra a categoria, a falta de estrutura e o abandono por parte dos gestores, os médicos ainda reclamam que a prefeitura não está repassando a folha SUS, além de não respeitar as progressões do PCCV.
Todos esses assuntos o SINMED tenta discutir com o prefeito Rui Palmeira e com a secretária Sylvana Medeiros, mas eles não concedem audiência à entidade. A ideia agora é relacionar todas essas e outras denúncias em um relatório, fartamente ilustrado por fotografias que confirmam a falta de estrutura de trabalho, e encaminhar esse documento ao Ministério da Saúde, Ministério Público, Ministério Público do Trabalho e imprensa. Quem sabe surge alguma solução?!