Febre amarela: risco de reurbanização da doença é real
Pesquisa envolveu 11 populações de mosquitos transmissores da doença no Brasil e uma do Congo, local de origem do vírus |
Um artigo publicado na revista internacional Scientific Reportsem julho de 2017 alerta para a reintrodução do vírus da febre amarela em ambiente urbano. O estudo intitulado “Potential risk of re-emergence of urban transmission of Yellow Fever virus in Brazil facilitated by competent Aedes populations” (PDF) mostrou que as populações de Aedes aegypti que hoje existem no Brasil são capazes de transmitir o vírus que circula atualmente nas áreas silvestres e, com isso, há possibilidade de reintrodução do vírus em meio urbano.
A pesquisa envolveu 11 populações de mosquitos transmissores da doença no País: Aedes aegypti, Aedes albopictus, Haemagogus leocucelaenus e Sabethes albiprivus, e uma do Congo, na África, local de origem do vírus.
Os insetos foram infectados com três cepas do vírus, sendo duas que circulam atualmente no Brasil e uma na África. Rio de Janeiro, Goiânia e Manaus foram as cidades pesquisadas por serem locais em que a infecção ocorre simultaneamente em vários animais de uma mesma área geográfica, semelhante a uma epidemia em humanos. Os resultados obtidos foram surpreendentes: Rio de Janeiro apresentou maior potencial de disseminação do vírus da febre amarela em área urbana. Já as populações de mosquitos de Goiânia e de Manaus, também foram suscetíveis à transmissão da doença, mas em menor grau.
O doutor Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas, que participou do estudo explica que os Aedes foram eficientes para disseminar e transmitir o vírus a partir do 14º dia após a infecção. “Também foi demonstrado que o Aedes aegypti brasileiro é suscetível a genótipos do vírus americanos e africanos. E que o Aedes albopictus no Rio de Janeiro foi muito eficiente para fornecer partículas do vírus a partir da saliva”, detalha. A pesquisa revelou ainda que os Hemagogus e Sabethes do Rio de Janeiro foram altamente competentes para transmitir cepas brasileiras e africanas do vírus.
O estudo foi realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz em parceria com o Instituto Pasteur, da França, e contou ainda com a colaboração o Instituto Evandro Chagas, do Pará.