Para especialistas, vacinar PNH ( macacos) ajudaria a cortar a circulação da febre amarela
- A imunização de macacos seria trabalhosa e custosa. "Mas, comparada as milhões de doses da vacina contra a febre amarela previstos para serem aplicados na população , me parece que a estratégia se justifica em termos de custo-benefício"
- O Ministério da Saúde gasta R$ 4,42 por dose de vacina para humanos.
- A falta de investimento na vacina dos macacos seria fruto principalmente da falta de entrosamento entre áreas que já estudam os primatas. "O difícil é fazer os diferentes órgãos governamentais conversarem e tomarem atitudes em conjunto"
No Brasil, cientistas capturam macacos para testes, mas não para imunização |
Os primatas são hospedeiros do vírus da febre amarela. Eles não o transmitem a outros macacos ou a seres humanos diretamente. O contagio só aconteceria se um mosquito picasse o macaco infectado e, na sequência, picasse uma pessoa. Mas evitar que os macacos se contaminem com o vírus poderia, sim, ser uma maneira de aumentar a proteção à população das cidades.
"Há estudos no país para avaliar a eficiência da vacina em macacos e poderíamos facilmente ajustar a dose para cada uma das espécies que ocorrem em áreas verdes da cidade", diz o virologista Edison Luiz Durigon, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo.
"As pessoas estão protegidas agora, mas e daqui a uma década? Vacinar os macacos cortaria a circulação do vírus por vários anos", acrescenta Eduardo Massad, professor da Faculdade de Medicina da USP.
Com base em levantamento bibliográfico, o professor Eduardo Massad faz uma estimativa: "Calculo que existam, aproximadamente, de 40 a 50 mil primatas não humanos que podem ser hospedeiros da febre amarela em São Paulo. Considerando que a imunidade de rebanho para esse vírus seja em torno de 50%, não seria preciso vacinar todos os macacos, mas algo em torno de 20 mil deles."
Vacinar macacos seria mais barato do que imunizar pessoas?
A imunidade de rebanho é a resistência de um grupo ou população à introdução e disseminação de um agente infeccioso. Ou seja, é a proporção crítica de pessoas ou animais acima da qual a doença desaparece.
"Não precisa ser um número exato, mas, se chegar perto da imunidade de rebanho, corta-se a circulação do vírus", explica Massad.
Ele reconhece que a imunização de 20 mil macacos seria trabalhosa e custosa. "Mas, comparada aos 2,9 milhões de doses da vacina contra a febre amarela previstos para serem aplicados na população de São Paulo, me parece que a estratégia se justifica em termos de custo-benefício", opina.
O Ministério da Saúde gasta R$ 4,42 por dose de vacina para humanos.
Dificuldades poderiam ser superadas
Questionado sobre a vacinação de macacos e sua viabilidade, o Ibama informou que tais questões deveriam ser direcionadas ao Ministério da Saúde.
Já o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB), locado no Ministério do Meio Ambiente, chegou a afirmar que um grupo de pesquisa envolvendo o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) daria início a testes de vacinas em primatas. A assessoria do Bio-Manguinhos, porém, limitou-se a informar que a Fiocruz, à qual pertence o instituto, "não está realizando vacinação de primatas contra a febre amarela".
Texto original editado do site
http://www.bbc.com/portuguese/brasil-42269138