Efeito da recessão econômica e impacto das despesas com saúde e proteção social na mortalidade de adultos no Brasil
A recessão econômica pode piorar a saúde em países de baixa e média renda, com mercados de trabalho precários e sistemas de proteção social fracos. Entre 2014 e 16, ocorreu uma grande crise econômica no Brasil. Nosso objetivo foi avaliar a associação entre recessão econômica e mortalidade de adultos no Brasil e verificar se os programas de saúde e bem-estar social no país tiveram um efeito protetor contra o impacto negativo dessa recessão.
Figura 1 Taxas médias de desemprego do estadono Brasil em 2012 e 2017 |
Métodos
Nesta análise longitudinal, obtivemos dados do Ministério da Saúde do Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do Sistema de Informações para o Orçamento Público em Saúde para avaliar mudanças no nível de desemprego do estado e mortalidade entre adultos (idade ≥15 anos) no Brasil entre 2012 e 2017. Os resultados foram taxas municipais de mortalidade por todas as causas e causas específicas para todos os adultos e entre os subgrupos populacionais estratificados por idade, sexo e raça.
Utilizamos modelos de regressão em painel de efeito fixo com pontos de tempo trimestrais para avaliar a associação entre recessão e mudanças na mortalidade. As taxas de mortalidade e desemprego foram prejudicadas usando os filtros Hodrick – Prescott para avaliar a variação cíclica e o controle das tendências subjacentes. Testamos as interações entre o desemprego e os terços das despesas municipais de proteção social e assistência médica para avaliar se a relação entre desemprego e mortalidade variava.
Constatações
Entre 2012 e 2017, foram registradas 7 069 242 mortes entre adultos (idade ≥15 anos) em 5565 municípios do Brasil. Durante esse período, a taxa média de mortalidade municipal adulta bruta aumentou 8,0%, de 143,1 mortes por 100.000 em 2012 para 154.5 mortes por 100.000 em 2017. Um aumento na taxa de desemprego de 1 ponto percentual foi associado a um aumento de 0,50 por 100.000 habitantes por parâmetro (IC95% 0,99-0,91) na mortalidade por todas as causas, principalmente devido a câncer e doenças cardiovasculares.
Entre 2012 e 2017, o aumento do desemprego representou 31 415 mortes em excesso (IC95% 29 698–33 132). A mortalidade por todas as causas aumentou entre brasileiros de raça negra ou parda (pardo) (um aumento de 0,46 [IC95% 0 · 15–0 · 80]), homens (0,67 [0,22-1,13]), e indivíduos com idade entre 30 e 59 anos (0,43 [0,16-0,69] por 1 ponto percentual de aumento na taxa de desemprego.
Não foi identificada associação significativa entre desemprego e mortalidade por todas as causas em brasileiros brancos, mulheres, adolescentes (15 a 29 anos) ou mais velhos e aposentados (idade ≥60 anos). Nos municípios com altos gastos em programas de saúde e proteção social, não foram observados aumentos significativos na mortalidade relacionada à recessão.
Interpretação
A recessão brasileira contribuiu para o aumento da mortalidade. No entanto, os gastos com saúde e proteção social pareciam mitigar os efeitos prejudiciais à saúde, especialmente entre populações vulneráveis. Essa evidência fornece suporte para sistemas de saúde e proteção social mais fortes globalmente.
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