Realizando a leitura sobre a história da Gripe espanhola e as mortes ocorridas após um desfile em comemoração a iminente vitória dos aliados na primeira guerra mundial, recordei que bem semelhante tivemos recentemente uma história que ainda está em curso no Brasil.Essa história tupiniquim,é sobre o Carnaval e o Coronavírus.
A pandemia por coronavírus e a introdução do SARS-COV-2 no país ,similar a um cavalo de troia durante as festividades momescas, vai cobrar inúmeras vidas .Não creio que os números apresentados correspondam a realidade, haja vista a presença de vários fatores que interferem na avaliação do número de casos reais, já comentados em outra postagem (confira aqui).
Como um desfile na Filadélfia em 1918 levou a uma taxa inigualável de mortalidade por gripe.
Em 28 de setembro, apesar da crescente infiltração da doença entre a população civil, um desfile para comemorar a iminente vitória aliada na Primeira Guerra Mundial prosseguiu com um mínimo debate das autoridades de saúde a época sobre o vírus da Influenza e as suas repercussões para a saúde pública. O chefe do Hospital Naval da Filadélfia disse ao Public Ledger nos dias que antecederam o desfile: "Não há motivo para mais alarmes. Acreditamos que o temos em mãos". Então, o desfile foi adiante.
Desfile na Filadélfia 1918 - Multidões celebrando a vitória da primeira guerra mundial |
Nas ruas do centro da Filadélfia, 200.000 pessoas se reuniram para celebrar uma iminente vitória aliada na Primeira Guerra Mundial. Uma semana após o comício, estima-se que 45.000 pessoas na Filadélfia foram atingidas por influenza.
O Liberty Bonds desfila na Filadélfia, 1918 via Wikimedia Commons |
No início, a epidemia da Filadélfia não diferia daquela de outras grandes cidades americanas", escreve o historiador James Higgins no Pennsylvania Legacies . "No entanto, na primeira semana de outubro, aproximadamente cinco semanas após o surto, a taxa de mortalidade da Filadélfia acelerou em uma subida incomparável por qualquer cidade do país - talvez por qualquer cidade importante do mundo". E esse aumento é atribuído ao evento patriótico, um dos vários comícios do Liberty Loan organizados na Filadélfia para arrecadar dinheiro para a guerra.
O que a população não imaginava era que desta vez, tinha se juntado a multidão um convidado desagradável: "O vírus da Influenza, presença invisível no desfile, desfrutara de uma oportunidade sem precedentes de se espalhar por toda a cidade e, nos próximos dias, anunciava sua presença na cidade por meio de uma onda vertiginosa de doença e morte".
Logo os hospitais estavam saturados em capacidade para atendimentos, assim como os necrotérios e cemitérios. 72 horas após o desfile, todos os 31 hospitais foram preenchidos. Em seis semanas, 12.000 estavam mortos.
1918 Divisão de influenza espanhola em Camp Funston, Kansas via Wikimedia Commons |
Como o Carnaval no Brasil em 2020 poderá levar a uma taxa inigualável de morbi- mortalidade por coronavírus.
Em fevereiro teve início o Carnaval no Brasil. Os dias e noites de folias podem ser descritos como uma festa de rua contínua. Havia uma infinidade de " procissões": blocos,bailes, trio elétrico, e desfiles das escolas de samba. Multidões nos restaurantes se espalharam pelas ruas. Nativos e visitantes de outros países circulavam pelos rincões do país. Todos, desde crianças pequenas até idosos, podiam ser vistos jogando serpentinas,purpurinas ao som barulhento dos blocos, que subiam e desciam ladeiras repletos de alegria . Mas ninguém prestou atenção que neste ano havia outro convidado invisível aos holofotes das câmeras e dos foliões: O COVID-19.
Mesmo diante de inúmeras advertências neste período onde o coronavírus já cobrava vidas humanas,no Brasil ,parecia que só quem estava escondido era somente o povo, que instruído a manter a alegria, e máscara ,só a da folia " já que "carnaval é vida que segue" ,continuou enebriado com as colombinas e os arlequins na folia mortal . Mas não achem com isso que somos um povo ignorante,primitivo, de terceiro mundo ! Somos sim um povo educado,e cumpridor das obrigações e orientações da saúde e "por isso", tiveram a inexorável solução para mantermos nossa etiqueta, que agora deveria começar com a da tosse, mesmo que não existisse pias ambulantes para lavagem das mãos,toalhas descartáveis como porta-bandeiras e álcool! Ah, o álcool,esse sim não faltou,mas infelizmente estava sendo deglutido por muitos como forma de matar o vírus da incredulidade. Espirros,tosse nem foi preciso lembrar para colocar o rosto próximo ao cotovelo, porque no ato de pular e cantar ,com distância ínfima entre os pares,essa simples manobra não seria necessária para evitar o voo do nosso convidado e seus inúmeros amigos patogênicos. Assim foi o Carnaval Troiano e bombalá da terra do pau Brasil!!
Foto ilustração ,bloco bangalafumenga. (site estado de São Paulo) É possível ter um padrão de Etiqueta respiratória, em meio a folia no Carnaval? |
O Carnaval passou,mas Brasileiro gosta mesmo é de uma boa folia, e sempre estica para a próxima semana mais um Carnaval fora de época . Com isso há mais uma oportunidade para os milhões de turistas e nativos desse tão amado Carnaval do lucro levar ondas renovadas de infecção a se espalhar pelo Brasil e em todo o mundo.
Conforme revisito e faço leituras de renomados especialistas em infectologia,creio que dentro de algumas semanas, o Brasil terá um grande aumento de casos,sendo celeiro para exportação do vírus principalmente para a América latina, e que seus hospitais não serão capazes de lidar com o volume inesperado dos infectados. As pessoas vão adoecer e algumas morrer por causa de uma decisão "tola", na melhor avaliação, e na pior omissão,negligência a saúde, de seguir em frente com este festival da Carne Levare (Carnaval), mesmo quando toda a ciência e o passado falavam bem alto para repensarem esta festividade .Espero sinceramente estar errado nessas conjecturas,mas ante os fatos ocorridos ,parece que não aprendemos com a história da humanidade !!!
Almejo mais do meu país, e menos do mortal coronavírus que foi apelidado carinhosamente pelos experts da saúde como "uma simples gripezinha" ,talvez para soar de forma subliminar para a população como algo bonzinho.
Acho que agora, diante o que foi descrito, e para agradar a gregos e troianos, em vez de COVID-19 ou simples gripezinha, posso renomeá-lo para uma nova alcunha de "gripe espanhola do Carnaval" .
Na presunção do que foi discorrido se tornar uma realidade, almejo que os turistas e os brasileiros não precisem cantar:
Eu fui as touradas em Madri Para tim bum, bum, bum Para tim bum, bum, bum.
E quase não volto mais aqui Para ver
Peri beijar Ceci.
Para tim bum, bum, bum Para tim bum,
Obs: onde for as touradas trocar por ao Carnaval, em Madri por no Brasil
O que vimos até agora foi simplesmente um processo natural de similaridade comportamental de patógenos na história da medicina , em épocas distintas. O erro também ,em subestimar a ciência em prol do lucro e fanfarronices !
Por hoje é só!
Mário Augusto
Fontes:
Por: Thomas Wirth
História da Pensilvânia: A Journal of Mid-Atlantic Studies, vol. 73, nº 3 (verão de 2006), pp. 316-342
Penn State University Press
Por: James Higgins
Legados da Pensilvânia, vol. 19, No. 1 (primavera de 2019), pp. 18-23
University of Pennsylvania Press
Por: Edward Goldstein, Jonathan Dushoff, Junling Ma, Joshua B. Plotkin, David JD Earn, Marc Lipsitch e Burton H. Singer
Anais da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos da América, vol. 106, n. 51 (22 de dezembro de 2009), pp. 21825-21829
Academia Nacional de Ciências
Por: Arlene W. Keeling
Public Health Reports (1974-), vol. 125, Suplemento 3: A pandemia de gripe de 1918-1919 nos Estados Unidos (abril de 2010), pp. 105-112
Sage Publications, Inc.
Por: Christina M. Stetler
História da Pensilvânia: A Journal of Mid-Atlantic Studies, vol. 84, No. 4, Edição especial: Pensilvânia e a grande guerra, parte 2 (outono de 2017), pp. 462-487
Penn State University Press
Por: Thomas C. Brennan
Registros da Sociedade Histórica Católica Americana da Filadélfia, vol. 30, nº 2 (junho de 1919), pp. 115-134
Sociedade Histórica Católica Americana
Por: Francis E. Tourscher
Registros da Sociedade Histórica Católica Americana da Filadélfia, vol. 30, nº 1 (março de 1919), pp. 25-63
Sociedade Histórica Católica Americana
Por: Francis E. Tourscher
Registros da Sociedade Histórica Católica Americana da Filadélfia, vol. 30, nº 3 (setembro de 1919), pp. 193-226
Sociedade Histórica Católica Americana