Peles de pirarucu pintadas em cores diferentes no curtume Nova Kaeru, no Rio de Janeiro, Brasil, em 11 de outubro de 2022.(Silvia Left/Associated Press) |
POR FABIANO MAISONNAVE
ASSOCIATED PRESS
TRES RÍOS, Brasil (AP) — Às vezes você começa algo e não tem ideia de onde isso vai te levar. Assim foi com Eduardo Filgueiras, um guitarrista em dificuldades cuja família trabalhava em um negócio inusitado no Rio de Janeiro: eles criavam sapos. Filgueiras descobriu uma maneira de pegar as minúsculas peles de sapo e amarrá-las, criando algo grande o suficiente para vender.
A quilômetros de distância, na Amazônia, um pescador e um cientista criam algo que poderia salvar um enorme peixe que vive em lagos de água doce ao lado de afluentes do rio Amazonas.
A ingenuidade desses três homens é o motivo pelo qual a linda e inusitada pele de peixe sustentável agora pode ser encontrada em bolsas de luxo de Nova York, botas de cowboy e em uma imagem da sessão de fotos que a Vogue fez quando Rihanna estava grávida, onde uma jaqueta vermelha com escamas de peixe pendurada aberta sobre sua barriga. As vendas proporcionam uma renda vital para centenas de famílias amazônicas que também mantêm a floresta em pé e saudável enquanto protegem seus meios de subsistência.
APROVEITANDO UM GIGANTE
A pele vem do pirarucu, alimento básico da Amazônia que está ganhando novos mercados nas maiores cidades do Brasil.
Comunidades indígenas trabalhando em conjunto com não indígenas ribeirinhos manejam o pirarucú em áreas preservadas da Amazônia. A maior parte é exportada e os Estados Unidos são o principal mercado.
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O pirarucú, também chamado de paiche ou pirarucu, pode crescer até 3 metros. A sobrepesca a colocou em perigo, mas as coisas começaram a mudar quando o pescador Jorge de Souza Carvalho, conhecido como Tapioca, e o pesquisador acadêmico Leandro Castello se uniram na região de Mamirauá e criaram uma forma criativa de contar os peixes nos lagos. , o habitat favorito. do peixe gigante.
Eles aproveitaram algo especial nessa espécie: ela vem à superfície para respirar pelo menos a cada 20 minutos. Um olho treinado pode contar quantos piscam suas caudas vermelhas em uma determinada área, chegando a uma estimativa bastante precisa.
O governo reconhece este método de contagem e autoriza a pesca dirigida. Por lei, apenas 30% do pirarucú em uma determinada área pode ser pescado no ano seguinte. O resultado é uma população em recuperação nessas áreas, permitindo capturas maiores.
Nas comunidades ribeirinhas, as pessoas comem a pele do peixe e tudo. Mas nos grandes frigoríficos, onde é processada a maior parte do pirarucú capturado, a pele era descartada. Em seguida, o curtume Nova Kaeru entrou em cena.
INICIOS DIMINUTOS
A milhares de quilômetros da Amazônia, subindo uma estrada de terra íngreme nos arredores do Rio de Janeiro, Nova Kaeru processará cerca de 50.000 peles de pirarucu capturados legalmente este ano.
Esta empresa de médio porte teve um começo improvável. Em 1997, Filgueiras, o guitarrista, se envolveu no negócio de sapos da família, criando anfíbios para carne. A beleza de sua pele chamou sua atenção, mas tudo foi descartado. Ele decidiu usá-lo, fez um curso de marcenaria e começou a experimentar.
“Eu não tinha recursos financeiros. Comprei uma betoneira usada e cobri com fibra de vidro, adaptei uma máquina de lavar e comecei a trabalhar com pele de sapo”, disse Filgueiras à Associated Press em seu escritório.
Ele conseguiu transformar a pele em couro, mas havia um problema: era muito pequena. Nenhum cliente a queria. Filgueiras tentou costurar, mas o resultado ficou muito feio. Então ele inventou uma maneira de soldar várias peças.
Sua criação começou a chamar a atenção em feiras internacionais. Alguns anos depois, com um sócio, fundou a loja de peles Nova Kaeru, especializada em peles exóticas, expandindo para salmão e avestruz com técnicas que não produzem resíduos tóxicos.
Então, um dia, um empresário bateu na porta com uma pilha de peles de pirarucú. Experimentando as novas peles, Filgueiras descobriu que poderia consertar os muitos buracos na pele do pirarucu usando a mesma técnica que havia criado para a pele do sapo.
Os primeiros resultados o impressionaram. Enquanto isso, o empresário morreu em um acidente de avião. Sem experiência anterior na Amazônia, tão diferente de sua base de operações no Rio de Janeiro, a empresa decidiu adquirir pele de pirarucu por conta própria na vasta região.
Entraram em contato com as pessoas que administram a pesca no estado do Amazonas. Essa rede cresceu para 280 comunidades ribeirinhas e indígenas, a maioria em áreas de floresta tropical protegida, empregando cerca de 4.000 pescadores, segundo o Coletivo do Pirarucu. O curtume Nova Kaeru comprou as peles, foi o primeiro comprador que as comunidades tiveram, e hoje é o mais importante.
“A comercialização de peles tem sido essencial para as comunidades ribeirinhas”, disse Adevaldo Dias, líder ribeirinho da reserva do Médio Jurúa, à Associated Press em entrevista por telefone. “Isso ajuda a viabilizar todo o negócio.”
A Associação dos Produtores Rurais de Carauari, do Médio Jurúa, vende cada pele por 37 dólares, quantia significativa em um país onde o salário mínimo gira em torno de 237 dólares mensais. O dinheiro ajuda a pagar os pescadores, que recebem US$ 1,60 por quilo (2,2 libras). Dias diz que o preço ideal deve ser de US$ 1,9 por quilo para cobrir todos os custos relacionados ao manejo da pesca. Eles esperam ganhá-lo em um futuro próximo exportando carne de pirarucú.
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🖥️ FONTES :
Do Médio Jurúa e de outras regiões, o couro de pirarucú deve viajar vários milhares de quilômetros de barco até Belém, onde é carregado em caminhões para mais uma longa viagem até a sede da Nova Kaeru, uma viagem de vários dias. De lá, os compradores estrangeiros são enviados de avião.
A pele de pirarucú foi introduzida pela primeira vez no Texas, onde é usada em botas de caubói. E a indústria da moda está prestando cada vez mais atenção a isso. Em Nova York, a marca de luxo Piper & Skye usou couro de pirarucú para bolsas de ombro, pochetes e bolsas que podem custar até US$ 850.
“O pirarucu é alimento para as comunidades locais e fonte de subsistência para as pessoas nas áreas onde é pescado e além, não é apenas um material durável e bonito. Promove a circularidade da espécie usando um material que seria desperdiçado", disse Joanna MacDonald, fundadora e diretora criativa da marca, à AP por videochamada.
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Com Agências
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