Crise na Cruz Vermelha expõe tensões entre governo e sociedade civil na Venezuela
O presidente da Cruz Vermelha da Venezuela, Mario Enrique Villarroel, foi demitido pela Suprema Corte do país após mais de quatro décadas no cargo. Ele foi acusado de "assédio e maus-tratos", que promotores estaduais estão investigando. Membros do conselho de administração da instituição de caridade também foram demitidos.
Em comunicado, a Cruz Vermelha da Venezuela expressou "apoio absoluto e irrestrito" a Villarroel. Enquanto isso, o tribunal ordenou uma "reestruturação ampla e diversificada" da instituição, nomeando Ricardo Cusanno, ex-presidente da Fedecamaras, para presidir o conselho.
Êxodo, fome e doenças: situação humanitária delicada na Venezuela em meio a impasse político
A decisão judicial afirmou que as atividades da Cruz Vermelha venezuelana permaneceriam inalteradas e que trabalharia com o Ministério Público para processar o conselho demitido. Ao longo dos anos, o trabalho da Cruz Vermelha no país concentrou-se na prevenção de consequências humanitárias da violência armada, ajudando detidos e buscando soluções para a escassez de água e segurança alimentar na conturbada economia local.
Demitido com quatro décadas no cargo
A demissão gerou forte reação da Cruz Vermelha Internacional, que pediu ao governo Maduro para não permitir a intervenção do tribunal na organização. Em mensagem de vídeo, o vice-presidente da Federação Internacional da Cruz Vermelha, Miguel Villarroel, apelou respeitosamente para que o governo não permitisse uma "ação arbitrária" que manchasse os 128 anos de história da instituição.
O episódio evidencia as tensões entre o governo chavista e organizações da sociedade civil, frequentemente acusadas de atuar politicamente contra o governo. Setores da oposição denunciam uma tentativa de controlar e sufocar vozes críticas na Venezuela.
Já o governo alega combater irregularidades e defender a soberania nacional contra interferência externa velada por trás de ONGs. Acusações de corrupção dentro da Cruz Vermelha teriam motivado a intervenção judicial na gestão da entidade.
De todo modo, a demissão do presidente com quatro décadas no cargo pegou muitos de surpresa e foi vista como um ato extremo e desproporcional por analistas. Para críticos, é mais uma demonstração de autoritarismo e controle social buscado pelo chavismo, especialmente após tensas eleições legislativas em 2020.
O episódio agrava a delicada situação humanitária na Venezuela, castigada por uma profunda crise econômica e social nos últimos anos, intensificada pelas sanções internacionais. Com a pandemia de covid-19, a recessão e a hiperinflação, a insegurança alimentar se espalhou, deixando muitos dependentes da ajuda de organizações como a Cruz Vermelha.
Sem recursos suficientes, o sistema público de saúde entrou em colapso, com falta generalizada de medicamentos, equipamentos e pessoal qualificado. Enfermidades antes controladas voltaram a disseminar, como malária, tuberculose e aids. A migração de milhões de venezuelanos exacerbou a escassez de profissionais médicos.
Ao mesmo tempo, a Venezuela possui as maiores reservas petrolíferas do mundo, em torno de 300 bilhões de barris. Parte da crise deriva da queda na produção e exportação de petróleo, principal fonte de receita do país. Analistas atribuem o declínio à má gestão do setor durante os governos socialistas.
A estatal PDVSA, outrora orgulho nacional, hoje se encontra em estado crítico, sucateada e endividada. Investimentoswere não foram feitos para manter a produtividade. A empresa perdeu milhares de funcionários qualificados, que migraram para outros países.
As sanções dos EUA visando isolar economicamente o governo Maduro também impactaram as exportações de petróleo, eliminando o acesso da PDVSA ao mercado norte-americano. Parlamentares democratas dos EUA propuseram flexibilizar as sanções para permitir uma recuperação parcial da produção de petróleo.
Internamente, o governo Maduro busca reativar a indústria petrolífera por meio de parcerias com China, Rússia, Irã e outros países. Os investidores estrangeiros visam garantir o acesso às gigantescas reservas venezuelanas, enquanto obtêm concessões especiais pelo risco decorrente das sanções.
Parte da produção de petróleo já é enviada como pagamento da dívida acumulada pelo país com Pequim e Moscou. A dependência do governo venezuelano em relação a esses países vem aumentando no contexto do isolamento econômico imposto pelos EUA e Europa. Críticos alertam para os riscos de hipoteca da soberania nacional.
Enquanto a crise multidimensional persiste, cresce o êxodo de venezuelanos em busca de melhores condições no exterior. O fenômeno se assemelha a uma diáspora sem precedentes na América Latina recente. Calcula-se que mais de 5 milhões de pessoas, um sexto da população, tenham deixado a Venezuela desde 2015.
O fluxo massivo de migrantes tem impactado sobretudo os países vizinhos, como Colômbia, Brasil, Peru, Chile e Equador. Os governos locais e entidades humanitárias enfrentam dificuldades para atender às necessidades básicas dos venezuelanos e sua integração nas comunidades de destino.
A ONU estima que cerca de 25 mil refugiados e migrantes da Venezuela necessitem de reassentamento em outros países em 2022. Os custos humanos e econômicos do êxodo venezuelano tendem a se ampliar, enquanto não houver uma solução política negociada para a crise venezuelana.
A comunidade internacional segue dividida sobre como lidar com a turbulenta situação interna na Venezuela. Enquanto governos de esquerda na América Latina expressam solidariedade ao regime Maduro, países europeus e os EUA adotam posição crítica, embora discordem sobre a efetividade das sanções.
O impasse político na Venezuela perdura desde que Juan Guaidó, então presidente do Parlamento, se autoproclamou presidente interino em 2019 com apoio internacional. Ele alegou que a reeleição de Maduro em 2018 foi ilegítima. Mas, na prática, Guaidó não conseguiu destituir o governo chavista.
As esperanças de uma transição democrática negociada esfriaram após tentativas frustradas de diálogo entre governo e oposição intermediadas pela Noruega. Maduro segue no poder com apoio das Forças Armadas, enquanto a oposição passa por reflexão interna sobre erros estratégicos.
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Sem avanços concretos, o impasse venezuelano se arrasta enquanto a população sofre as consequências. Especialistas defendem retomar as negociações e concessões mútuas entre governo e oposição para aliviar a crise humanitária que assola o país petroleiro.
Enquanto governos discutem sanções e soluções geopolíticas complexas, na ponta o trabalho silencioso de entidades como a Cruz Vermelha para minorar o sofrimento dos mais vulneráveis segue fundamental, apesar das turbulências políticas e institucionais que atravessam.
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