Quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência do Brasil em janeiro, muitos tinham grandes esperanças de que ele restauraria as políticas de proteção ambiental que haviam sido enfraquecidas por seu antecessor, Jair Bolsonaro. Lula fez diversas promessas de campanha, comprometendo-se a combater o desmatamento, a mineração ilegal e os incêndios florestais, especialmente na vasta floresta amazônica. Agora, sete meses após o início de seu mandato, a revista Nature consultou pesquisadores e especialistas para avaliar a maneira como eles percebem o desempenho de Lula até o momento. As avaliações, que variam em uma escala de 1 a 5, com 1 indicando um desempenho ruim e 5 excelente, são em sua maioria positivas, mas também apresentam uma mistura de perspectivas. Os entrevistados destacam conquistas que merecem celebração, mas também apontam para a necessidade de o governo Lula conduzir negociações mais intensas tanto com seus aliados quanto com seus opositores no Congresso, a fim de efetuar progressos significativos.
Meio Ambiente e Políticas de Lula |
Em maio, o Congresso brasileiro, cuja maioria é composta por figuras conservadoras inclinadas à indústria, tomou decisões que resultaram na redução do poder tanto do Ministério do Meio Ambiente quanto do Ministério dos Povos Indígenas. Essas agências desempenham um papel vital na proteção das terras, incluindo as vastas extensões da Amazônia, que possuem uma riqueza significativa em biodiversidade e têm a capacidade de armazenar grandes quantidades de carbono. Há críticos que argumentam que o governo não fez o suficiente para impedir essas mudanças. Carlos Rittl, consultor em políticas ambientais e mudanças climáticas com base em Potsdam, Alemanha, destaca que houve um erro do governo ao não se opor às medidas adotadas.
Apesar disso, o governo Lula retomou o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM), um programa que desempenhou um papel crucial na redução da perda de árvores na Amazônia em mais de 80% durante os dois primeiros mandatos de Lula como presidente, de 2004 a 2012. O PPCDAm, que apoia a vigilância remota do desmatamento e a aplicação das leis contra crimes ambientais, foi suspenso durante o governo Bolsonaro, mas agora foi revitalizado e permanecerá em vigor até o final do mandato de Lula, em 2027. Já existem alguns sinais incipientes de sucesso. No ano passado, no período entre agosto de 2022 e julho de 2023, o desmatamento na região caiu em torno de 7% em comparação ao mesmo período do ano anterior, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do Brasil, que monitora a cobertura arbórea por meio de satélites. Nesta semana, Lula participou de uma cúpula em Belém, Brasil, juntamente com líderes de nações que compartilham a bacia amazônica. O evento foi voltado para discussões sobre a proteção e o desenvolvimento sustentável dessa região, marcando a primeira cúpula desse tipo desde 2009.
Apesar dos progressos, há preocupações de que a atenção destinada à Amazônia esteja em detrimento de outros biomas no Brasil. O Cerrado, uma savana de grande diversidade biológica localizada no centro do país, testemunhou um aumento no desmatamento de 16,5% no último ano, entre agosto de 2022 e julho de 2023, em comparação com o ano anterior. Paulo Moutinho, ecólogo do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia em Brasília, observa que a atenção à Amazônia tem sido mais proeminente, mas o mesmo não pode ser dito do Cerrado.
A seguir, detalharemos as avaliações fornecidas pelos especialistas, incluindo suas perspectivas sobre as medidas necessárias para elevar a avaliação do governo a uma nota 5.
LUIZ MARQUES: Esclarecer a posição do Brasil em relação aos combustíveis fósseis
Historiador do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais em Campinas, Brasil
Avaliação: 2,5
Os especialistas que dialogaram com a Nature, incluindo Luiz Marques, identificam a falta de clareza do governo Lula em relação às políticas energéticas, especialmente no que se refere ao alinhamento dessas políticas com a proteção ambiental. Um exemplo citado é a proposta da Petrobras, empresa estatal de energia com sede no Rio de Janeiro, para perfurar poços exploratórios de petróleo próximos à foz do rio Amazonas. Essa iniciativa levantou preocupações em relação a um ecossistema de recifes próximo e levantou questionamentos sobre as razões pelas quais Lula estaria considerando a exploração de novas reservas de combustíveis fósseis. Marques argumenta que o governo deve priorizar a transformação da Petrobras em uma empresa de energia com baixas emissões de carbono. Ele acrescenta que é essencial compreender até que ponto o governo Lula irá inibir e reverter projetos de extração de petróleo já implantados, tanto em terra quanto no mar.
CARLOS RITTL: Combater as influências internas que retardam o progresso ambiental
Consultor em políticas ambientais e mudanças climáticas, com base em Potsdam, Alemanha
Avaliação: 3,5
Rittl enfatiza que, para que Lula melhore sua avaliação, é crucial que ele transmita uma mensagem inequívoca aos seus aliados no Congresso, deixando claro que a proteção ambiental e os direitos indígenas não são temas passíveis de negociação. Ele argumenta que Lula precisa estabelecer um exemplo a ser seguido. Rittl acredita que somente dessa forma o Brasil poderá ser percebido como retornando ao debate global sobre liderança em questões ambientais, o que, por sua vez, pressionaria outros países a adotarem metas mais ambiciosas em seus próprios objetivos ambientais.
FABIANO TONI: Reforçar o pessoal na linha de frente do Ministério do Meio Ambiente
Diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília
Avaliação: 3,5
Toni expressa sua satisfação com a resposta do governo Lula a uma crise de saúde entre o povo indígena Yanomami no início deste ano. Lula declarou estado de emergência em saúde no território Yanomami, a maior reserva indígena do país, em janeiro, após um aumento nas mortes infantis. A mineração ilegal de ouro na região estava comprometendo a subsistência através da escassez de caça, contaminação da água por mercúrio e agravamento da violência. O governo liderou uma campanha para expulsar milhares de garimpeiros do território.
Para elevar sua avaliação para um nível 5, Toni defende a necessidade de o governo contratar mais profissionais para órgãos ligados ao Ministério do Meio Ambiente, tais como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), responsável pela proteção ambiental, a Fundação Nacional do Índio (Funai), que zela pelos direitos dos povos indígenas, e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que administra unidades de conservação. Atualmente, as carreiras nesses órgãos carecem de atratividade, e os funcionários enfrentam uma situação desprotegida. Toni sustenta que uma remuneração adequada é necessária, uma vez que as funções nesses órgãos requerem expertise especializada e são estrategicamente relevantes.
PAULO MOUTINHO: Conferir 'status legal' às terras sem título
Pesquisador sênior especializado em desmatamento, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Brasília
Avaliação: 4,0
Moutinho argumenta que, para que o governo Lula alcance uma avaliação máxima, é necessário que sejam adotadas medidas de fiscalização e controle mais eficazes do desmatamento em todos os biomas do país. Ele também destaca a urgência de conferir um 'status legal' às terras públicas que carecem de título, especialmente nas regiões da Amazônia e do Cerrado. Ele sugere que essas terras sejam designadas como áreas protegidas, propriedade indígena ou zonas de uso sustentável. Atualmente, cerca de 56 milhões de hectares de terra se encontram em um estado de limbo legal, desprovidos de um status definido, tornando-se assim vulneráveis ao desmatamento
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