Uma corrida contra o inferno: histórias de sobrevivência e angústia |
Por:CLAIRE RUSH, CLAIRE GALOFARO e MATT SEDENSKY
No olho do furacão: a batalha para escapar das chamas em lahaina
Um trágico conto emerge do fogo avassalador em Lahaina, onde uma sequência de eventos angustiantes culminou em uma luta frenética pela sobrevivência. O dia começou com fumaça sutil cobrindo o sol, ventos uivando e o calor diminuindo à medida que as chamas avançavam para as árvores ao longe. A energia já havia falhado, levando Mike Cicchino a considerar a compra de um gerador na loja de ferragens local. Porém, em um instante, seu bairro transformou-se em uma zona de guerra, com pessoas desesperadas correndo, agarrando seus bebês e pulando em carros em meio ao pandemônio.
Esse cenário desolador desenrolou-se por volta das 15h30 de uma terça-feira, quando Cicchino e seus vizinhos foram empurrados para uma luta angustiante por suas vidas. Em questão de minutos, eles foram confrontados com decisões cruciais que determinariam seus destinos em meio a um dos desastres naturais mais devastadores e mortais já testemunhados pelo país.
Nesse caos, a falta de orientação oficial era palpável. Não havia sirenes, megafones ou autoridades para guiar as pessoas. Famílias inteiras e vizinhos estavam entregues a si mesmos, forçados a decidir se deveriam ficar ou fugir, em meio a uma fumaça espessa que cegava a visão e chamas que se aproximavam de todos os lados. Carros explodiam, linhas de energia estavam caídas, árvores eram arrancadas e o fogo era impulsionado pelo vento, caindo como chuva ardente.
As autoridades confirmaram a terrível cifra de pelo menos 96 mortes - marcando esse incêndio florestal como o mais mortal ocorrido nos EUA em mais de um século - com a triste perspectiva de que esse número possa aumentar ainda mais.
Apenas momentos antes de Cicchino fazer a curva em sua rua, os bombeiros de Maui emitiram um alerta preocupante. Embora o incêndio em Lahaina tivesse começado naquela manhã, as autoridades haviam divulgado informações de que havia sido contido. Porém, a situação mudou drasticamente devido ao vento imprevisível, ao terreno acidentado e às brasas incandescentes, que dificultavam prever a direção e velocidade do fogo. Esse cenário de incerteza foi resumido por Jeff Giesea, chefe assistente dos bombeiros, ao afirmar que o fogo poderia estar a apenas um quilômetro de distância, mas que em questão de minutos, já poderia estar ameaçando casas.
Cicchino, ao perceber a urgência da situação, retornou rapidamente a sua casa e, em estado de alerta, comunicou a necessidade iminente de evacuação a sua esposa. "Precisamos ir! Precisamos sair daqui agora!", ele exclamou. O casal, acompanhado por seus cinco cachorros, dirigiu em direção à segurança enquanto ligava para a polícia. Contudo, o acesso à principal rodovia que levava para dentro e para fora de Lahaina estava bloqueado pelas autoridades, obrigando-os a seguir pela Front Street junto com outros carros.
A poucas quadras dali, Kehau Kaauwai testemunhou o vento feroz arrancando o telhado da casa de um vizinho, como se sucessivos tornados estivessem varrendo a área. Em um instante, a fumaça que antes estava distante subitamente engolfou a região, transformando o dia em uma noite cinzenta e escura.
Kaauwai, então, experimentou uma transformação drástica do ambiente, com explosões e faíscas lembrando fogos de artifício. Movida pelo instinto, ela pegou seu cachorro e algumas roupas, sem imaginar que perderia tudo o que tinha. Dirigindo-se para longe do perigo, ela se viu em meio ao trânsito caótico, testemunhando pessoas arrastando árvores caídas e detritos sendo atirados pelo vento.
Em um gesto de coragem, Bill Wyland, dono de uma galeria de arte local, recolheu seus objetos pessoais essenciais e montou em sua Harley Davidson, dirigindo pela calçada. Ele descreveu o calor intenso que sentia em suas costas e no cabelo da nuca, enquanto as chamas se aproximavam perigosamente. Wyland passou por outros que também buscavam escapar em meio ao caos, com explosões e a escuridão antinatural da fumaça às 16h, como se a tarde tivesse se transformado em noite.
Enquanto a tragédia se desenrolava, muitos tiveram que tomar decisões cruciais: ficar na terra que queimava ou se jogar no mar, onde as ondas agitadas e traiçoeiras os aguardavam. Para alguns, a escolha era entre ser queimado vivo ou correr o risco de se afogar. Esse dilema aterrorizante se repetiu em meio ao caos e pânico que varria a Front Street, onde os carros queimavam como bombas e as chamas criavam uma visão de pesadelo.
O relato também apresenta a perspectiva de outros sobreviventes, cada um reagindo de maneira diferente diante do perigo iminente. Alguns perceberam a necessidade de fugir devido a informações de amigos e vizinhos, enquanto outros tiveram a intuição de que a situação era crítica. A falta de orientação oficial deixou muitos sem saber qual direção seguir.
À medida que o fogo avançava, o desespero crescia. O testemunho de Anne Landon, que descreveu o calor abrasador e a sensação de que a situação era um pesadelo, refletiu o sentimento de inquietação que pairava. Enquanto se moviam entre a praia e a costa, as chamas e a fumaça, Cicchino e outros enfrentaram momentos de horror, em que pensavam que era o fim. A incerteza e o medo eram palpáveis, e muitos se encontraram em uma luta pela vida sem precedentes.
Finalmente, com o auxílio da Guarda Costeira dos EUA, os sobreviventes foram resgatados, mas as cicatrizes emocionais permanecem. O relato termina com as imagens dos resgatados enfrentando pesadelos e traumas, com dúvidas e agonias sobre as decisões tomadas durante aqueles momentos cruciais. A tragédia em Lahaina deixou uma marca indelével naqueles que sobreviveram, lembrando a todos do poder destrutivo da natureza e da fragilidade da vida humana diante de sua força avassaladora.
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