A música das emoções: a jornada de Joseph LeDoux
O neurocientista Joseph LeDoux, conhecido por seu trabalho na compreensão das emoções no cérebro, é o foco de um novo documentário que explora suas contribuições revolucionárias. Este artigo analisa o documentário, destacando a influência de LeDoux na pesquisa e prática clínica, esclarece seu papel na investigação sobre a amígdala e desvenda os equívocos comuns sobre sua relação com o medo. Além disso, explora a conexão única entre a música e as emoções na vida de LeDoux e revela seus planos futuros na pesquisa cerebral.
Na canção "É mais difícil saber que o medo é devido / Do que saber que ele está aqui", Joseph LeDoux, o renomado neurocientista, exprime um dos principais conceitos relacionados ao cérebro e às emoções. Essa canção, uma adaptação do poema de Emily Dickinson "While we were Fearing, it came —", comunica insights fundamentais sobre as pesquisas de LeDoux, que são o foco de um novo documentário intitulado "Neuroscience and Emotions: The Life, Work, and Music of Dr. Joseph LeDoux."
O documentário destaca a profunda influência de Joseph LeDoux no campo da neurociência e na prática clínica. Nos anos 1970, a emoção era um tema rejeitado por muitos neurocientistas, considerado confuso demais para ser estudado. No entanto, o mentor de LeDoux, Michael Gazzaniga, conhecido por suas pesquisas com pacientes com cérebro dividido, encorajou LeDoux a explorar esse campo desconhecido, apesar dos riscos envolvidos.
LeDoux aceitou o desafio e, assim, iniciou uma jornada que não apenas contribuiu significativamente para o avanço do conhecimento, mas também tornou a emoção um tópico respeitado na neurociência. Ele é mais conhecido por seu trabalho sobre o papel da amígdala na formação das emoções, embora a interpretação desse papel seja frequentemente equivocada.
Inicialmente, LeDoux não planejava estudar a amígdala. Em suas primeiras pesquisas com ratos, ele observou que, quando expostos a estímulos diversos, seus sistemas sensoriais se conectavam aos sistemas motores. Por exemplo, se um som fosse percebido como ameaçador, um rato - ou qualquer ser vivo, incluindo humanos - poderia reagir congelando, aumentando a frequência cardíaca e a pressão arterial. Ao investigar a conexão entre os sistemas sensoriais e motores, LeDoux e seus colegas identificaram as amígdalas, dois aglomerados de células com forma de amêndoa localizados na base do cérebro. Eles perceberam que a informação sensorial passava pela amígdala antes de ser transmitida para os sistemas motores.
Embora a amígdala desempenhe um papel crucial na produção do medo, da ansiedade e de outras emoções, ela não é o "centro do medo" no cérebro, como frequentemente se supõe. Nas palavras de LeDoux:
"A amígdala há muito tempo é considerada um centro do medo. No entanto, se definirmos o medo como um estado mental, um sentimento de medo, a amígdala não é responsável por isso. A amígdala detecta e responde ao perigo. O medo é uma interpretação cognitiva da situação, tanto externa quanto interna."
A amígdala atua como uma central de comunicação entre diversos sistemas cerebrais envolvidos na geração de emoções, incluindo a regulação da pressão arterial, frequência cardíaca, hormônios do estresse e respostas de congelamento. As primeiras pesquisas de LeDoux revelaram as conexões entre esses sistemas e as reações do corpo às ameaças.
O que frequentemente é subestimado, afirma LeDoux, é a ligação entre a experiência do medo e a resposta à ameaça. O medo, assim como outros estados mentais, é uma resposta cognitiva aos estímulos detectados pela amígdala. Ele argumenta que as interações entre os diversos sistemas envolvidos criam um circuito de memória de trabalho que se transforma na experiência de medo.
Surpreendentemente, LeDoux não tinha a intenção inicial de se tornar neurocientista. Sua jornada começou na pequena cidade de Eunice, Louisiana, onde sua família possuía um açougue. Lá, ele tinha a tarefa de extrair as balas usadas para abater as vacas, o que o proporcionou uma intimidade peculiar com o cérebro, apesar de não ter a linguagem para descrevê-lo.
Ao ingressar no laboratório de Michael Gazzaniga e iniciar seu doutorado em neurociências, LeDoux não tinha formação em ciências e possuía apenas conhecimentos em marketing. No entanto, sua paixão pelo assunto o impulsionou a prosseguir. Poucos poderiam prever a influência significativa que LeDoux exerceria na maneira como neurocientistas e psicólogos compreendem as emoções, especialmente o medo e a ansiedade.
No final do século XIX, William James propôs uma ideia semelhante à de LeDoux: que nossos corpos respondem aos estímulos antes mesmo de termos consciência deles. LeDoux esclarece:
"Para mim, há muito mais envolvido nas interpretações cognitivas: esquemas de memória que integram informações sobre a situação, o que representa o perigo e o medo, experiências passadas com perigos enfrentados e como o corpo reagiu. Esses esquemas são o modelo pré-consciente a partir do qual a sensação de medo emerge. Como ninguém mais possui o mesmo conjunto de esquemas, ninguém experimenta o medo da mesma forma. E o fato de podermos traduzir a palavra 'medo' entre diferentes idiomas não implica que pessoas de diferentes culturas sintam o medo da mesma maneira. Suas experiências pessoais e seus esquemas, em parte moldados por suas culturas (e subculturas), contribuem para essa diversidade."
Se o medo e a ansiedade fossem simplesmente produtos da amígdala, seria muito mais difícil alterar nossa relação com essas emoções por meio de métodos como exercícios, psicoterapia, terapia de exposição, terapia cognitivo-comportamental, ioga, meditação ou práticas somáticas. As pesquisas de LeDoux têm implicações significativas para todas essas abordagens terapêuticas. Na vida pessoal de LeDoux, a música desempenhou um papel terapêutico.
O documentário "Neuroscience and Emotions" também destaca a carreira musical de LeDoux, revelando a estreita ligação entre suas pesquisas e sua música. Ele e sua banda se autodenominam "mental pesado" e suas músicas exploram temas relacionados ao cérebro, à psicologia e aos transtornos mentais. No entanto, a conexão mais intrigante é aquela entre a música e as emoções.
O retrato pintado pelo documentário da influência da música na vida de LeDoux é comovente e surpreendente. LeDoux sempre teve envolvimento com a música, mas passou a levá-la mais a sério após uma tragédia pessoal. No documentário, ele compartilha como a música lhe proporcionou conforto e inspiração.
Embora a música não possa eliminar o sofrimento, pode ajudar uma pessoa a desenvolver uma nova relação com suas emoções. Assim como um rato reage fisicamente a um som, os seres humanos também têm reações físicas às experiências musicais. Embora LeDoux não tenha conduzido pesquisas sobre a relação entre música e emoção, ele a ilustra por meio de sua própria música.
Após décadas de pesquisa e a publicação de quatro livros influentes sobre o cérebro, a emoção, a individualidade e a evolução da consciência, Joseph LeDoux concluiu que já reuniu dados suficientes. Agora, ele planeja focar em "a interconexão dos sistemas cerebrais", um tópico que ainda não é plenamente compreendido, mas que é de extrema importância. Conforme a pesquisa de LeDoux demonstrou ao longo do tempo, nenhum sistema no cérebro atua de forma isolada, mas sim em interação com outros sistemas. Portanto, não é surpreendente que ele esteja direcionando sua atenção para essas interconexões.
Se há algo que LeDoux deseja que o público compreenda, é que a amígdala não é o centro do medo. Em vez disso, ela é uma peça fundamental nesse intrincado quebra-cabeça das interconexões cerebrais. No poema de Emily Dickinson, que LeDoux adaptou para sua canção, são detalhadas as oscilações cognitivas do medo que tornam os sentimentos de medo e ansiedade tão complexos. Dickinson, uma pensadora à frente de seu tempo, explora as nuances dos estados de medo e nos lembra que esses sentimentos dolorosos, como todos os sentimentos, estão em constante evolução, moldados pelo tempo e pela experiência.
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